Pequenas frestas de alegria clareiam o escuro ambiente que lhe toma. Em meios aos pesadelos reais da vida, seu refúgio dourado se faz presente.
Algumas vezes como realidade paralela, outras como a frieza dura de quem traz consigo as verdades do mundo real.
Gritos mudos deixam sua alma rouca e acabam por falar mais alto que qualquer sombra de razão poderia sussurrar. Querer em vida não é suficiente, já que nunca combinaram o fim do jogo.
Clamando de maneira clara aos sete ventos, ele persegue a pequena chance que possui com se fosse um grande alvo. Sem cerimônia, parcimônia ou vergonha, se dobra a tudo que a vida servil de amor lhe traz (e trouxe), independente da dor ou da forma.
Vivendo cada pedaço de vida como se fosse o único, joga pela janela toda a sensatez que cultivou ao longo de sua, agora virtual, maturidade. A vida não permite apostadores sem vergonha. Como no boxe, toda ousadia sem proteção e precisão será punida.
Que sobre o fim, como desacato por sua audácia, como desabafo por sua ousadia, como punição por sua desobediência à lógica.
Que sobre algo além dos pedaços que prometem se fazer presentes sem qualquer traquejo. Que fragmento deixe nele a memória de uma aposta alta e irresponsável. Que fique a marca, o espaço vago de mais um fracasso em sua vasta biblioteca de derrotas.
Que sobre suas lágrimas não sobre qualquer arrependimento, não sobrará. Afinal, no peito não lhe sobrou amor ou coragem, tudo foi dado, tudo foi sentido, tudo foi entregue e doado. Ainda é.
Nada restará ao final das contas. Ao final do conto ficará a doçura do vivido e o amargor de uma derrota que sempre foi certa, mas jamais aceita, até a realidade do fim.
Que a vida se encarregue de cicatrizar cada marca que restará. Que tais cicatrizes, ao menos nele, possam depois conservar aquilo que há de melhor na capacidade de cada um, o amor, o amar.