À medida em que os anos avançam, uma coisa fica cada vez mais evidente:
Ninguém mais ama o presente. No máximo, o tolera.
A procura por viagens ao passado nunca foi tão grande. Máquinas do tempo são encomendadas segundo a segundo, com a velocidade de uma vida que simplesmente passou.
A impressão de que apenas vivemos de verdade na infância e parte da adolescência é uma realidade brutal e dolorida. O entretenimento vive trazendo de volta essa época em seriados, novelas e jogos por, talvez, perceber que existia mais interação social analógica – até porque, de digital, tínhamos apenas as pontas dos dedos.
Ninguém consegue enxergar alguém fazendo um filme ou programa de TV sobre a forma como existimos hoje. Você passaria 50 minutos assistindo alguém que acorda, fica 50 minutos dando scroll no Instagram, toma café dando likes no Facebook e segue no caminho do trabalho enviando memes em grupos de Whatsapp que sequer sabe como foi parar lá?
Viramos historiadores de 20 anos atrás, quando nenhum coach nos obrigava a brincar duas horas na rua com os amigos para melhorar o condicionamento físico e o relacionamento social: era apenas a naturalidade das coisas.
Hoje, qualquer atividade precisa respeitar uma programação já comprometida por um ano inteiro. Até imprevistos são computados, conseguimos assassinar a surpresa.
Se antes aprendíamos com os erros, hoje o corretor passa um pano sobre as letras incorretas.
Ficamos iguais demais. E o diferente ficou pra trás.
E é pra lá que queremos ir, pois logo quem estiver em frente não terá absolutamente nada pra se lembrar.