Pensamentos crônicos

O futuro sem memórias

Escrito por Brunno Lopez

Viramos historiadores de 20 anos atrás, onde nenhum coach nos obrigava a brincar duas horas na rua com os amigos para melhorar o condicionamento físico e o relacionamento social: era apenas a naturalidade das coisas.

À medida em que os anos avançam, uma coisa fica cada vez mais evidente:

Ninguém mais ama o presente. No máximo, o tolera.

A procura por viagens ao passado nunca foi tão grande. Máquinas do tempo são encomendadas  segundo a segundo, com a velocidade de uma vida que simplesmente passou.

A impressão de que apenas vivemos de verdade na infância e parte da adolescência é uma realidade brutal e dolorida. O entretenimento vive trazendo de volta essa época em seriados, novelas e jogos por, talvez, perceber que existia mais interação social analógica – até porque, de digital, tínhamos apenas as pontas dos dedos.

Ninguém consegue enxergar alguém fazendo um filme ou programa de TV sobre a forma como existimos hoje. Você passaria 50 minutos assistindo alguém que acorda, fica 50 minutos dando scroll no Instagram, toma café dando likes no Facebook e segue no caminho do trabalho enviando memes em grupos de Whatsapp que sequer sabe como foi parar lá?

Viramos historiadores de 20 anos atrás, quando nenhum coach nos obrigava a brincar duas horas na rua com os amigos para melhorar o condicionamento físico e o relacionamento social: era apenas a naturalidade das coisas.

Hoje, qualquer atividade precisa respeitar uma programação já comprometida por um ano inteiro. Até imprevistos são computados, conseguimos assassinar a surpresa.

Se antes aprendíamos com os erros, hoje o corretor passa um pano sobre as letras incorretas.

Ficamos iguais demais. E o diferente ficou pra trás.

E é pra lá que queremos ir, pois logo quem estiver em frente não terá absolutamente nada pra se lembrar.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.