Pensamentos crônicos

Todo dia é dia das mães

Escrito por Thigu Soares

Passado o furor emocional e comercial do dia das mães na última semana, entre peças publicitárias bem feitas (outras nem tanto) e declarações sinceras e emocionadas, fiquei pensando sobre isso tudo. É claro que a melhor mãe do mundo é sempre a nossa, mesmo que ela insista com o casaco antes de você sair.

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Passado o furor emocional e comercial do dia das mães na última semana, entre peças publicitárias bem feitas (outras nem tanto) e declarações sinceras e emocionadas, fiquei pensando sobre isso tudo. É claro que a melhor mãe do mundo é sempre a nossa, mesmo que ela insista com o casaco antes de você sair.

Alguns, como eu, tiveram mães e avós presentes, quase como se viessem dobradas. Particularmente, isso me leva a alguns trechinhos da minha história, que divido agora com vocês de um jeitinho um tanto quanto lúdico.

Antes de começar tudo isso, queria deixar claro que nenhum irmão meu foi maltratado durante esse período.

Fui filho de uma jovem adulta, pós adolescente, solteira. Hoje em dia, chamam de “mãe solo”. Admiro especificamente essa gourmetização, mães merecem. No meu caso, o fator idade se repetiu por duas gerações, fazendo com que a minha gloriosa avó seja apenas 36 anos mais velha que eu. Sim, trinta e seis anos apenas. Sim, feche a boca.

Essas linhas não carregarão cargas traumáticas dessa história, a ideia é que vocês entendam como a gravidez pode ser desmistificada por um filho ao ver sua mãe grávida. Tenho dois irmãos: um ex-caçula, uns 5 anos e meio mais novo que eu; e uma miúda, 24 anos e 49 semanas mais nova que eu. Sim, só isso tudo. Eu poderia falar sobre a relação com eles, de como é diferente ter irmãos de idades tão distintas, mas esse não é o foco.

Com pouco mais de 3 ou 4 anos, comecei a perturbar minha mãe pedindo um irmão. Acho que isso é algo natural, não sei. A criança vai achando um tédio não ter ninguém pra brincar o tempo todo e, pelo menos na minha época (sim, frase que denuncia a idade), esse lance de escola integral, criança com 374 atividades desde cedo não era tão comum.

Quando tive a notícia da gravidez da minha mãe, tudo se iluminou de um jeito bem diferente, com uma enormidade de detalhes que deixariam vocês de saco cheio de ler. O foco de absolutamente TUDO na minha vida, era meu irmão. Absolutamente NADA além disso me importava! Nem minha mãe.

É exatamente esse o grande ponto do meu texto: eu não tava nem aí pra minha mãe! Entendam e leiam a frase anterior pensando em pôneis e num sentido leve, bastante figurado. O fato é que eu só queria saber do meu irmão. Era como um presente, e minha mãe, tadinha, era só um embrulho.

Não me lembro de desconfortos, pernas inchadas ou quaisquer coisas que possam ter acontecido. Nem tenho como culpar minha memória, que funcionava bem à época. Eu só queria saber da criança que estava literalmente enfurnada naquela barriga.

Quando minha mãe, já depois de seus 40 anos, com dois filhos adultos, me disse estar grávida, um misto de sensações tomou minha cabeça. Depois de passados todos os períodos psicológicos possíveis, me instalei em um modo comportamental completamente inverso ao da primeira gravidez. Dessa vez, eu não tava nem aí pro bebê.

Claro, eu também sou louco pela minha irmã, mas também explico. Ali, eu, filho, adulto, durante 9 longos meses, fui capaz de ver como uma gravidez é de verdade. Não discutirei o mérito mágico ou tenebroso da condição. Não sou mulher, nunca engravidei e acho que isso também vai da análise de cada um.

Aquilo que posso afirmar é que aquele período me fez compreender o que muitos chamam de amor de mãe. Pude notar como essa relação (mesmo que linda) é parasitária, e como a gente simplesmente se apropria do corpo de nossas mães antes mesmo do nascimento. Não me parece uma relação que de algum modo comece justa.

Mais interessante que tudo isso é perceber que mesmo começando assim, provocando tantos momentos difíceis antes, durante e depois do nascimento, esses seres que chamamos de mãe são capazes de amar suas crias incondicionalmente. É algo que talvez eu nunca vá entender, já que mãe não serei.

Por isso a ideia de escrever hoje, por isso esperar o hype do Dia das Mães passar: pra poder lembrar a vocês que, independente do dia bom ou não com elas, todo dia é dia das mães. Se você acha difícil entender algumas características da sua mãe, tente imaginar como ela consegue te amar. É muito difícil entender.

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.