Imagine-se preso dentro de um corpo sem controle de sua própria vontade, onde o seu querer já não basta, seu subconsciente avança a um nível de perda de comando que não age com racionalidade.
Imagine-se viver se idealizando de uma forma, e ao se olhar no espelho tudo que vê é um monstro sem forma, sem contorno, e a ansiedade de ser como sempre sonhou é tão forte, tão forte, que te conduz a fazer em dobro o que você mais luta para parar: comer.
Um ato tão simples, tão vital, tão único e prazeroso, e que pode virar um tormento tão grande.
Como uma bola de neve, primeiro vem uma ansiedade desgovernada, comandada por uma inquietação pulsante, um desespero genuíno. Quando dá você por si, já está descendo pela garganta. O mastigar, a sensação de tê-lo envolvendo-se a sua saliva e o sabor se espalhando é quase transcendental.
A fome acaba, o apetite passa, e então o desespero começa no momento em que você continua a comer, com mais vigor, mais intensidade, e não consegue parar. Nunca o máximo é o suficiente.
Quando um fio de lucidez adentra a irracionalidade, vêm as crises de choro, o ódio, o desejo de tirar toda a gordura que aquilo vai acabar virando. O final da história você conhece… E isso pode vir a se tornar uma doença, como bulimia e anorexia.
Ou, no momento em que o mero feixe de lucidez passa antes de você se fartar em um banquete indesejado, as crises de choro chegam primeiro, acompanhadas de um querer pungente de por algo na boca que você sabe que não pode, e isso te consome.
Cirurgias e remédios não resolvem, porque o problema vai continuar lá, sobrevoando a massa cinzenta, esperando qualquer mudança de humor, qualquer instabilidade, até qualquer alegria para se manifestar.
A compulsão alimentar não é brincadeira, não é desculpa, e a parte ainda mais difícil é acordar todos os dias e continuar firme, para travar uma batalha contra si mesmo sem esmorecer.