Parte considerável da modernidade carrega uma certa preguiça dos protocolos do romance. Os músculos dos braços são vistos a quilômetros de distância pela força que fizeram carregando esta bandeira de autossuficiência. Qualquer sinal de cumplicidade é visto como uma fraqueza e precisa imediatamente ser combatido antes de se transformar num status de relacionamento atualizado.
Reconhecemos que nem todo o açúcar que escorre das declarações virtuais e analógicas é real o bastante para adoçar um amor que sequer enche um copo americano. Mas, em tempos de exposição colorida de sentimentos, cada ml pode se transformar em litros dentro do mês estratégico do calendário.
Corações não costumam cumprir agenda, e talvez o que foi incrível duas semanas atrás não tenha tido força para se transformar num rótulo comercial lucrativo. Porém, não deixou de ser incrível por acabar. Pode ser até mais verdadeiro que um jantar planejado por conveniência, em que as duas pessoas só abrem a boca para sorrir em fotos posadas, enquanto compartilham uma refeição no mais assustador silêncio.
Não escolhemos dias para nomear relações ou celebrar o que aparentemente deu certo. O que é de fato bom não nos permite tempo pra registro. A gente vive pra se lembrar depois.
Tem 1º de abril mais real que muito 12 de junho.
Crédito da imagem: Belinda Fewings - Unsplash