Na época que eu era uma infeliz usuária de transporte coletivo, minha principal reclamação era a quantidade de pessoas que ignorava a existência dos fones de ouvido (e as regras de bom convívio social), obrigando todos a ouvirem suas músicas no busão. Reparei, também, que essa falta de bom senso estava sempre aliada a outra característica muito marcante nesse tipo de gente: o péssimo gosto musical (observe que essas pessoas nunca ouvem Chico Buarque ou Frank Sinatra, por exemplo). Eu até dei um apelido para passageiros com esse perfil: os DJs do busão!
Felizmente, já tem um bom tempo que não preciso mais tomar ônibus na minha cidade. Geralmente #VouDeBike e, quando preciso me deslocar distâncias maiores, chamo um motorista de aplicativo. Eu pensei que assim estaria livre dos DJs… me enganei excepcionalmente! Quase todas as vezes que eu entro em um Uber/99 carro, eu faço uma viagem no tempo, para uma época nada nostálgica da minha vida – aquela em que eu era obrigada a tolerar o mau gosto musical alheio e fingir que não me incomodava para não sair na porrada com gente folgada e sem noção me estressar.
Eu nem uso tanto assim o serviço, mas só este ano ouvi música gospel umas três vezes! E eu nem sou religiosa. Sertanejo universitário, então, parece uma praga! O meu desespero já chegou em um nível tão absurdo, que dou nota baixa para quem ouve música (que eu considero) ruim; mas dou cinco estrelas (e até gorjeta!) para quem melhora meu dia com um rock clássico, um jazz, um blues… outro dia, alguém aí levou dois reais só por ouvir Engenheiros (eu nem sei o que seria capaz de fazer se tocasse Queen ou Pink Floyd)!
Porém, não quero discutir gosto musical. Quero refletir sobre outra coisa. Se você acha isso tudo frescura, imagine o seguinte: você é motorista de aplicativo e um passageiro entra no seu carro; ele coloca uma música qualquer (de um gênero que você ODEIA) na caixinha de som portátil que ele carrega consigo. Soa normal? A mim, parece que não.
Obviamente que o motorista não tem como adivinhar o gosto musical de cada cliente, mas se ele tiver só um tiquinho de bom senso, o mínimo que deve fazer é deixar o som do carro desligado (ou, em uma viagem mais longa, pode até disponibilizar o Bluetooth do carro para o passageiro colocar a música que desejar – essa atitude mereceria cinco estrelas e até uma gorjeta!). Eu costumo dar nota alta para o motorista que deixa o som desligado também – não só para o que toca músicas que eu gosto. Me sinto respeitada assim. Quem trabalha com público, tem que ter em mente que está prestando um serviço; não é o gosto musical do prestador que importa; então, não seja você o DJ da vida dos outros.
Uma pesquisa* revelou que 92.3% das pessoas se incomodam com as músicas escolhidas pelo motora da vez. Esse percentual é tão alto, que até desconfio que os DJs do busão viraram tudo motorista de aplicativo!
*Pesquisa realizada pelo Instituto DataLibrenz**, entre os meses de novembro de 2018 a março de 2019. A pesquisa ouviu um total de 13 pessoas, residentes no Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Tocantins. A probabilidade da pesquisa refletir a realidade é de 90%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
** Empresa fictícia, pensada para gerar credibilidade a pesquisas igualmente fictícias.