Quantas mãos você precisaria além das suas para contar as vezes em que desejou estar com o rosto e a alma de outra pessoa? Em quantas ocasiões lhe ocorreu a vontade irresistível de experimentar novas geografias, diferentes companhias e indescritíveis sensações que nunca poderiam ser reais enquanto viver dentro de sua própria pele?
Se ao menos fosse fácil se arrastar pra fora do seu corpo, deixando as cicatrizes que você não consegue enxergar como medalhas e caminhar para uma personalidade intacta. Deslumbrar-se numa versão inédita sua. Uma quintessência particular.
Se ao menos fosse fácil esmigalhar a rotina com outros pés, quebrando as correntes dos compromissos e beijando a liberdade de língua. Inundar-se com o sangue de corações que nunca bateram tanto. Uma ressignificação de todo e qualquer padrão de felicidade.
Talvez suspirasse mais do que respirasse. Talvez gargalhasse mais do que apenas sorrisse.
Talvez vivesse mais do que apenas escrevesse.
Mas o talvez é uma perda de tempo.
E tempo é algo que você passou a vida toda se orgulhando de não ter.