Começo de mês é sempre a mesma coisa. Boletos e mais boletos chegando, a cabeça a mil tentando fazer cálculos para saber se as contas vão caber no orçamento – quase nunca cabem.
Droga, o cartão de crédito veio altíssimo. Eu sabia que não deveria ter comprado aquele sapato. Ah, meu Deus, o seguro do carro vence este mês, eu tinha me esquecido. Caramba, parece que meus banhos demorados deram aquela incrementada na conta de luz.
É um rebola daqui, contorna de lá, conta moedinhas e tenta sobreviver…
Não vai dar para ir à cervejaria que eu gosto esta semana. Viver está custando caro demais.
Mas, por incrível que pareça, os custos mais pesados não se pagam com dinheiro.
Viver custa muito caro emocionalmente, quando a gente não trata nossos problemas psicológicos, quando não fala dos nossos traumas, quando não supera nossas perdas.
Custa caro demais viver preso a uma cidade que não gostamos, a um trabalho que nos frustra, a um relacionamento que nos aleija.
O custo da vida é altíssimo quando sufocamos nossa personalidade, quando abrimos mão de nossas vontades mais íntimas, quando fingimos sorrir perante algo que na verdade nos faria chorar.
O ingresso do cinema está caro. A gasolina está cara. O supermercado está pela hora da morte. Mas, caro mesmo, é não ter alegria de viver, não encontrar prazer nas pequenas coisas do cotidiano, não saber por que se levantar da cama pela manhã.
Quem consegue resolver essa equação e viver a vida no azul, pagando todos os preços necessários, mas tirando algo de positivo disso, é mais rico que qualquer pessoa milionária no planeta.