Canto dos contos

Meia vida inteira

Escrito por Breno Amaro

Uma vida inteira vivida no meio, nunca nos extremos.

Ele era filho do meio.

Nasceu ao meio-dia, no dia 2 de julho, bem no meio do ano (tem 182 dias antes e 182 dias depois). Nem pra lá, nem pra cá.

Na maternidade, ficou no bercinho do meio, entre a porta e a janela.

Não chorava muito, nem pouco. Só o suficiente.

Na escola, sentava ali no meio da sala. Não era bagunceiro da turma do fundão, nem CDF que sentava lá na frente.

Suas notas? Passava sempre ali, na média.

Teve algumas namoradas durante a vida. Nem muitas, nem poucas.

Nenhuma muito bonita, ou muito feia. Mas todas eram do jeito que ele gostava.

Seu trabalho era honesto e dava um salário mediano.

Nada que o deixasse rico, mas nem que o fizesse pobre. O extrato da classe média.

Tinha um apartamento simples, num bairro perto do centro, entre um condomínio nobre e a favela.

Já velhinho, sentado na sua poltrona, ele deu um sorriso meio de lado e pensou:

– Ê, vidinha mais ou menos…

E assim fechou os olhos pela última vez. À meia-noite.

Sobre o autor

Breno Amaro

Oi, eu sou o Breno. Carioca, redator, flamenguista, fã de surf, do Philadelphia Eagles e de Cavaleiros do Zodíaco. Faixa preta em Mortal Kombat e bi-campeão do World Series of Pavê 2015-16, comecei a escrever porque nunca aprendi a desenhar. Eu me fantasio de Ryu, de Ivan Drago e de Tigre no carnaval. Uma frase? “Trabalhe com o que ama e você nunca vai precisar trabalhar na vida, porque vai morrer de fome”. Escrevo sobre tudo o que passa na minha cabeça, sobre tudo que acontece na minha vida e, sobretudo, sobre nada. Meu cachorro se chama Bolinho.