Desidratando ainda mais a polêmica do like, me pergunto: a quem importa tudo isso? Diante do espetáculo de uma multidão invisível, corações se encontram preenchidos por um vazio sem fim. Não importa o virtual se o calor da presença inexiste.
Mesmo me vendo como um ser de ampla extensão digital, acho que o charme do analógico nos fez perder parte de nossa essência como um todo. O prazer da ligação, a proximidade da voz de quem amamos. Mesmo que do outro lado da linha, esse meio fala e sente mais do que a frieza das linhas em uma telinha.
Claro que não estamos aqui para diminuir o valor do afeto. Seriam as cartas de próprio punho do hoje, trafegando em bits e bytes pela grande rede. Os olhos serenos da vida real não seriam menos elogiados pela mudança do meio, mas quase sempre perdem força. É da entropia da comunicação, da escassez da humanização.
Se o afeto, de certo modo, se perde no virtual, a vaidade ganha corpo, trazendo consigo a necessidade de afirmação e a carência de tantas mentes inquietas. Momentos inesquecíveis são vividos e divididos com uma tela. Um tampão que registra o momento para terceiros transforma a imensidão sensorial numa tarrafa. Buscam fisgar a atenção em formato de like em meio ao mar de olhos atentos e dedos inquietos que percorrem uma tela e fazendo “tum-tum” a cada agrado.
Nessas horas, ser retrô se torna um luxo. A preciosidade da vida vem do sorriso que a gente vê se formar na nossa frente. Está no “eu te amo” abafado em meio ao galope de emoções que a gente curte enquanto o carrossel da vida dá suas voltas. Nas mãos que se enroscam, nos pés que se encaixam, nos abraços que reconciliam pessoas e suas vidas.
O melhor like do mundo não é blogueirístico. O like que vale a pena é aquele que nos influencia pro bem, que joga a gente pra frente e que se importa com nosso sorriso. O like que importa não vai aparecer na sua tela, mas pode aparecer na sua porta e pode estar na sua vida. De preferência, ao seu lado.
Crédito da imagem: Marina W C Crema, por Geisa Borrelli