Amor é prosa

Era uma vez de novo.

Escrito por Breno Amaro

A vida, às vezes, nos presenteia com encontros improváveis. E estes podem se tornar muito bons.

Depois de alguns meses da separação, eles finalmente se encontraram novamente. Dessa vez, na fila do cinema.

Ela sabia que ele não gostava de ir ao cinema sozinho. Ele sabia que ela sabia que ele não gostava de ir ao cinema sozinho.

“Ele deve estar com alguém.”

“Ela deve estar achando que eu estou com alguém.”

Os dois se viram de longe, mal cruzaram olhares e apenas balançaram a cabeça positivamente, tentando manter o mínimo de civilidade.

Ele sabe que eu sempre gostei desse cinema, por causa da pipoca com lemon pepper e da poltrona que deita.

Se ela me ensinou a gostar de pipoca com lemon pepper e poltrona que deita, a culpa é dela.

Ainda faltavam 10 minutos pra sessão. Cada um num canto do hall do cinema. Ambos tentando fingir que não estavam olhando um pro outro.

Ele tá usando a calça que eu dei pra ele. E pra sair com outra! Que desaforado!

Ela tá linda…

Cinco minutos pra sessão. O funcionário avisa que as pessoas já podem pegar seus óculos 3D com ele e entrar.

Vou deixar esse bando entrar primeiro. Será que eles não sabem que tem lugar marcado?

Será que eles não sabem que tem lugar marcado? Vou deixar esse bando entrar primeiro.

Ambos deixam pra entrar por último, já que eles sabem que tem lugar marcado. Acabam sendo os dois últimos a entrar.

_Olá.

_ E aí?

Pegam os óculos juntos. Entram na sala juntos. Olham de longe que os dois únicos lugares vazios na sala estão um do lado do outro. Juntos.

_ F13.

_ F14.

Sentam um ao lado do outro, como nos velhos tempos de poucos meses atrás. Ela sabe que ele gosta de botar a pipoca no colo e o refrigerante do lado direito.

_ Quer trocar de lugar pra botar o refrigerante ali?

_ Opa, obrigado.

Ele sabe que ela gosta de cruzar as pernas e ganhar carinho no braço durante o filme.

_ Posso?

_ Pode. (Dando risadinhas)

Durante 2 horas, eles não tinham brigado por um motivo que nenhum dos dois lembrava.

Durante o filme, eles sentiram um quentinho no coração, como não sentiam há meses.

Durante o tempo certo, eles reviveram uma antiga história de cinema.

Sobre o autor

Breno Amaro

Oi, eu sou o Breno. Carioca, redator, flamenguista, fã de surf, do Philadelphia Eagles e de Cavaleiros do Zodíaco. Faixa preta em Mortal Kombat e bi-campeão do World Series of Pavê 2015-16, comecei a escrever porque nunca aprendi a desenhar. Eu me fantasio de Ryu, de Ivan Drago e de Tigre no carnaval. Uma frase? “Trabalhe com o que ama e você nunca vai precisar trabalhar na vida, porque vai morrer de fome”. Escrevo sobre tudo o que passa na minha cabeça, sobre tudo que acontece na minha vida e, sobretudo, sobre nada. Meu cachorro se chama Bolinho.

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