Relatório de Evidências

Os vizinhos sem nome. E a Judite

Escrito por Mayara Godoy

Observar a vizinhança sempre rende material para crônicas. Mesmo que a gente nem saiba o nome dos vizinhos.

Observar a vizinhança é uma arte. E a linha entre observar e bisbilhotar é muito tênue. Mas eu não julgo quem a cruza. Até porque precisamos de material para escrever

Mas eu, particularmente, sou uma pessoa bastante desinteressada na vida alheia – talvez por temer reciprocidade que, consequentemente, culminaria nos vizinhos percebendo o quão monótona a minha vida é. 

Mesmo assim, em minhas caminhadas diárias com o Luke, é inevitável observar certos comportamentos das pessoas que vivem perto de mim. 

Tem uma senhorinha oriental, por exemplo, que todas as manhãs desce para se exercitar aproveitando os primeiros raios de sol da manhã. Ela é muito simpática e transmite uma sensação de paz, fazendo seus movimentos de yoga. Acho fofa.

Por outro lado, tem uma outra senhorinha que, volta e meia, vejo descendo em direção ao prédio ao lado, onde a filha dela mora. Sei disso porque uma vez a encontrei de pijamas e cabelos molhados, e ela me contou que havia ido lá tomar banho (não lembro por que) e que da janela do apartamento dela, ela conseguia ver o da filha. Até hoje, quando a vejo, meu pensamento é o mesmo: “lá vai a velha enxerida incomodar a filha, coitada, pode nem trepar com o marido em paz que a mãe tá lá de voyeur”.

Também tem uma outra senhora – sim, meu prédio tem muitos idosos – que tem cara de brava e eu tenho medo dela. E tem o sanfoneiro do térreo, motorista aposentado, que eu acho tanto ele quanto a esposa muito simpáticos. Mas, não sei os nomes deles. Aliás, praticamente não sei o nome de ninguém. 

Só o da Judite. Ah, não tem como não saber o nome da Judite, porque ela é a maior reclamona e encrenqueira do prédio. Aparentemente, quem mora no apartamento em cima do dela faz muito barulho, porque ela reclama muito no grupo do WhatsApp. A Judite reclama tanto que, ela mora no térreo, e eu, no quarto andar, e mesmo assim tenho medo de ela reclamar da minha máquina de lavar roupas que faz barulho quando centrifuga. 

Também tenho vizinhos caninos, mas até agora só sei o nome da Tequila, uma poodle muito simpática, cuja humana também é muito simpática. 

E tem um filhote de Cocker que já encontrei umas duas vezes, mas não me ative a perguntar seu nome para o dono, porque eram 7h da manhã e eu ainda estava no piloto automático. Desculpe, vizinho, nada pessoal. 

Mas, todas as minhas observações são muito superficiais, porque, como eu disse, sou um pouco desinteressada neste aspecto. No máximo eu sei mais ou menos quem entra e sai do prédio aproximadamente em que horário, e minhas interações normalmente se limitam àquele protocolar comentário sobre o clima: “Calor, né? Será que chove?”. 

Por outro lado, fico imaginando se, por algum acaso, também tenho algum vizinho que escreve crônicas e neste momento estaria se referindo a mim como “a ruiva que conversa com o cachorro”. 

Se alguém encontrar um texto desses em Foz do Iguaçu, por favor, me mande o link. Quem sabe eu descubra mais alguma coisa sobre meus vizinhos – ou, ainda, uma versão alternativa sobre mim. 

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

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