Pensamentos crônicos

Pretérito Imperfeito

Escrito por Guilherme Alves

Será que tudo o que é velho é ruim? Aliás, o que exatamente é “velho”?

Eu tenho uma teoria de que, daqui a umas três gerações, não vai mais existir passado. As coisas mais velhas serão tão velhas quanto o mais velho ser humano vivo; todo o resto será descartado por ser feio, chato ou bobo. Livros serão queimados, filmes serão destruídos, músicas serão esquecidas. O mundo começou no ano em que eu nasci, o que ficou para trás não me interessa.

Pode parecer um pensamento meio apocalíptico, mas basta reparar no comportamento dos jovens de hoje para perceber que, apesar de exagerado, ele não está muito longe da verdade. Eu tenho notado que, com as raras exceções de sempre, aquelas que confirmam a regra, esses jovens não se interessam pelo que é antigo – sendo que o conceito de “antigo” deles não é “da época do Império Romano”, e sim “mais velho do que eu”.

Recentemente, fiquei pasmo ao conversar com um rapaz de 18 anos que foi assistir a O Rei Leão, aquele feito em computação gráfica, no cinema. Segundo ele, nunca havia assistido o original (de 1994, 25 anos de idade, portanto), porque “desenho que não é de computação é muito chato”. Aliás, ele nunca assistiu a nenhum desenho da Disney mais velho que Enrolados justamente por causa disso. Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937, ele deve ter achado que foi feito por neandertais.

Pelo que eu tenho notado, esse comportamento é mais que comum em relação a tudo. Música anterior ao ano 2000? Sem graça. Livro escrito há mais de vinte anos? Chato. Filme que não tenha efeitos especiais em computação gráfica? Feio e bobo. Filme preto e branco? Pelo amor de Deus.

Infelizmente, isso é mais que gosto pessoal. Ninguém é obrigado a gostar de nada, mas, quando você rejeita algo sem nem conhecer só porque é “velho”, você perde uma parte da história, se recusa a conhecer o passado. E, como disse George Santayana (em 1905, escrevendo com um cinzel em uma pedra, provavelmente) , “aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”.

Talvez seja exatamente por isso que estamos vendo tantos remakes.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

2 comentários

  • Ops, voltei. Um contraponto a este texto é a ideia de que tudo no passado era melhor, desde que, claro, seja no “meu passado”. É muito comum a frase: “naquele tempo que era bom” que acaba desrespeitando os valores da atualidade. Tá, a gente assistia a He-man, mas deixa a garotada de hoje assisti a… sei lá, que porcaria esta juventude vê nos dias de hoje?

  • Rapaz, que bordoada nesta juventude burra. Devo discordar, no entanto, dos ares apocalíticos de sua visão de Nostradamus. Acho que clássico sempre será clássico. E, por ser clássico, vai sobreviver ao gosto geral. Estarão lá, disponíveis. Basta resgatá-los. Afinal, são clássicos!

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