Rei da desatenção, perdi com sucesso a hora sem qualquer eufemismo aparente. Fiz um hashi com os ponteiros do relógio e um piquenique sobre as areias da ampulheta. Não privilegio manhãs ou noites, apenas decidi mastigar o tempo e engolir qualquer compromisso fixado num calendário onde apenas os feriados mudam de lugar.
O mundo gira, mas quem fica tonto é a gente. Nas amarras dos compromissos inadiáveis, a falsa liberdade de uma ou duas horas de almoço aliena mais do que comentaristas de portais. Não é um intervalo que nos desprega dessa cruz de realidade, esse assoalho de histórias inacabadas pela falta de um roteiro mais vendável em horário nobre.
Volto à minha refeição temporal. A fome agora é de um futuro saboroso que não me faça engasgar com o passado e nem soe tão insípido como o presente. Me sirvo de receitas que faltam ingredientes, pois, no final, nada está completo de verdade. É aí que entram os temperos. Eles não existem para toques finais ou gostos requintados, é só uma forma de encobrir que algo falta. De hoje em diante, nunca me darei por satisfeito, por melhor que seja o banquete.
Liberdade é acordar com a voz da consciência antes do despertador do celular caro pago em mais parcelas do que as vezes que você se arrependeu.
Muitos acordam pra essa vida. Outros preferem adormecer.
Eu escolhi dormir, pois isso tudo é um baile de gala onde o mais elegante está de pijama. Bom pra quem vive morrendo de sono.
Cara , que texto gostoso! Amei!