Às vezes, tenho a sensação de que estamos todos surdos. Como se uma epidemia tivesse nos atingido sem que a gente percebesse ou pudesse reagir.
Todo mundo quer falar, mas poucos estão dispostos a ouvir. E, para que alguém possa falar, é fundamental que outro esteja ouvindo – caso contrário, torna-se apenas poluição sonora.
Não sei se é porque, por muito tempo, não pudemos falar, e agora queremos tirar o atraso dos tempos de repressão, ou se o ser humano é simplesmente geneticamente programado para ser barulhento e egoísta mesmo; mas sei que um diálogo, um verdadeiro diálogo, tem sido coisa rara por esses tempos.
O que vemos são pessoas falando, umas falando com as outras, outras falando mais alto que as umas, mas ninguém está de fato conversando. Creio que nunca se falou tanto e se escutou tão pouco.
Todos têm suas opiniões formadas e seus discursos ensaiados, mas eles não cumprem a mais primitiva teoria da comunicação que é a da mensagem chegar ao receptor.
Tanto se fala em empatia, mas se esquece de que ela começa justamente por ouvir o outro, enxergar o outro, permitir-se sentir a sua dor. Ao contrário disso, nós, tagarelas e obstinados em quebrar os decibelímetros, só sabemos papagaiar nossas próprias convicções.
Um antigo dito popular dizia que Deus havia feito os humanos com dois ouvidos e uma boca por um motivo: para que a gente ouvisse mais do que falasse. Pelo visto, nem as sabedorias populares a gente ouve mais.