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Embora

Escrito por Brunno Lopez

Embora esse texto seja uma despedida, trata-se , talvez, de apenas um “até logo”.

Embora eu esteja indo embora, a pretensão natural que veste meu orgulho gosta de pensar que as palavras ainda vão ficar aqui por um tempo. Cada letra foi uma gota salgada de suor, temperando dias insípidos de alguém. Às vezes, elas ficavam presas entre carpo e metacarpo, escondidas em terminações nervosas do pulso, numa seleção muscular de qualidade até que tivessem força e relevância suficientes para desfilarem confiantes diante dos olhos julgadores de uma sociedade que não sabe ler. Mas sabe opinar.

Embora eu esteja indo embora, enrijeci os músculos ao máximo para deixar marcas que o sol não esmaeça. Uma tatuagem feita com tintas do tipo 0 -, raras e vitais para que combatam o menor sinal de esquecimento. Talvez os dias atuais tenham produzido uma hemorragia e é perfeitamente aceitável perecer despejando convicções valiosas sobre este deserto de literatura contemporânea. Porém, um oásis não é suficiente pra quem está acostumado com oceanos de água doce e nanquim.

Embora eu esteja indo embora, reforcei as costuras da minha mochila pra tentar levar os predicados e imperfeições de todos vocês. Lembrar é sempre mais difícil do que conviver, mas existem desejos individuais escandalosos, que gritam mais alto que o discurso daqueles que mais gostamos — ou apenas toleramos por protocolos sociais. Se a intimidade é uma assassina de expectativas, é sábio deslizar ileso enquanto somos admiravelmente estranhos uns aos outros.

Embora eu esteja indo embora, assim como um bumerangue ou uma justiça divina, talvez eu volte, um dia, pra cada um de vocês.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.

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