Texto enviado pela leitora Juliana Brito
Estávamos conversando num restaurante. Era um grupo heterogêneo. Um interesse comum nos unia; não éramos amigos, apenas conhecidos, colegas. Um deles olhava para mim insistentemente. Sorria ao conversar, puxava papo, me ouvia com atenção. Acho que enrubesci algumas vezes, meu rosto queimava. Tinha pudor em olhar em seus olhos claros, mas me sentia atraída imensamente para eles. Havia uma atenção, um desejo de me conhecer, saber mais de mim. Tentava acompanhar a conversa do grupo. Entre risos e anedotas, conversa séria e banal, a noite se arrastava.
Eu queria ir para meu quarto, e ao mesmo tempo, prolongar para sempre aquele encontro. Me sentia viva, inteligente, alegre. Pouco a pouco as pessoas foram saindo e ficamos apenas nós dois. Ele prometera para um dos responsáveis pelo grupo que me levaria em segurança para o hotel em que eu estava hospedada. Não sei como me deixei ficar ali, numa cidade desconhecida, com um homem desconhecido.
No entanto, ele não era tão desconhecido assim. Era escritor também. Conhecia seus livros e nos trombamos em alguns eventos durante aquelas semanas. Se valendo disso, se aproximou. Conversamos sobre o que eu estava escrevendo, sobre ideias genéricas sobre o mundo, sobre seus livros, sobre uma música que descobrimos compartilhar a preferência. Me chamou para irmos a uma boate que ficava ali perto, havia música ao vivo e pessoas dançando. Falei que nunca tinha saído para dançar, que devia ser muito bom. Sabia que não levava o menor jeito para flertes, ainda assim, tomei coragem e fui com ele.
O salão estava envolto numa semipenumbra suave. Pessoas conversavam em pé ou sentadas bem próximas. Uma música triste tocava no aparelho de som, enquanto os cantores tomavam um pouco de ar durante o intervalo. Um casal de idosos dançava garbosamente, esquecidos de todos ao redor. Pedimos um vinho. Sentamos a um canto e eu passei a observar o lugar. Meu coração batia forte. Eu queria ser a velhinha do casal que rodopiava no salão. Pequena, mas altiva. Seus olhos brilhavam, seu corpo experiente sabia exatamente o que fazer. Seu parceiro, com a mão em sua cintura a envolvia com força e delicadeza. Havia tanta intimidade entre eles, tanta segurança e alegria de estarem juntos.
Depois do show ao vivo pedimos algo para comer. Não me lembro o que foi, só me lembro que o vi comendo com gosto e com fome. Sorria e me contava coisas engraçadas sobre ele. Perguntou se eu queria dançar. Disse que sim, mas que não ousaria, para não parecer ridícula. Ele não insistiu.
O hotel ficava a algumas quadras dali. A noite estava limpa, uma chuva forte caíra mais cedo. Fomos andando vagarosamente a pé, chegamos a fazer o percurso ao contrário algumas vezes, só para prolongar a companhia. Subimos. Havia uma bela varanda, o céu misterioso, sem nuvens, com estrelas cintilando parecendo vivas lá em cima. Nos sentamos na espreguiçadeira. Tínhamos tanto para falar. Às vezes o silêncio nos envolvia, nos olhávamos, tínhamos medo de quebrá-lo e ter que nos despedir.
Ele colocou uma música no celular, me ofereceu um dos fones. Pegou na minha mão e me convidou para dançar. Inaugural, fiquei em pé ao seu lado, sem jeito, sem graça, com muita vontade. Atados pelos fones de ouvido, ele enlaçou minha cintura. Encostei-me ao seu peito de modo que ouvia as batidas do seu coração. Era forte e constante.
Havia um perfume bom em sua roupa, deixei-me ficar a sorver aquele cheiro novo que me tomava. Ele estava quente, a noite levemente fria, e nós nos balançando suavemente naquela varanda florida. De lá avistávamos a água na piscina um pouco mais abaixo. Me imaginei ali, mergulhando como sereia, tendo ao meu lado aquele homem cativo junto a mim. Eu e ele, leves, molhados, flutuando, juntos como se fôssemos amigos de longa data e que tivéssemos uma vida em comum.
A música acabou. Ele quis me beijar. Ofereci meu rosto. Ele roçou meus lábios. Cadeiras sendo arrastadas para perto da piscina quebraram o encanto. Sabia que era preciso ir para o quarto sozinha. Não ousaria ficar com alguém que eu não conhecia realmente. Segurando minha mão, ele me levou até a porta. Disse que seu quarto ficava dois andares abaixo em relação ao meu, me deu o número. Nos despedimos sem saber o que dizer. Havia algo, tão forte e tão profundo que temíamos quebrar a magia.
Entrei devagar, fechei a porta. Fiquei um tempo parada esperando que ele batesse alegando alguma desculpa. Estava tão molhada, viva e tão assustada. Meu coração parou, esperando, esperando. Depois de alguns minutos, sentei-me no sofá, abri o notebook e comecei a escrever.
Acordei bem cedo. Desci para o café da manhã. As malas já estavam prontas e em meia hora partiria para o aeroporto. Recebi um pacote com um livro autografado e um bilhete. Soube que tudo fora real e que dependia de mim escrever o próximo capítulo.
Excelente texto, a gente fica torcendo para que o narrador tenha mais encontros.
Daria um romance… no papel ou na pele… ou em ambos.