Tocando a face, ora com delicadeza, ora com ferocidade, o vento se molda a cada linha do rosto que se contrai em sorriso ou se relaxa em satisfação. Sentindo a leveza de quem flutua, tudo passa rápido diante dos nossos olhos.
Em pares, tal qual as asas da liberdade, um ser humano normal se liberta e alça voo através de duas rodas. Do mergulho profundo e veloz ao mais calmo dos trajetos, passando pela deliciosa inclinação de cada curva, vivemos o risco de quem busca a liberdade de peito aberto, de quem sabe que todo mundo merecia poder voar um dia.
Viver em duas rodas significa compreender cada etapa da vida como um ciclo de marchas. Ter essa ousadia no DNA ajuda a lembrar sempre que a vida para num sinal e caminha devagar, que a primeira é sempre pra baixo e que vem pra cima, distrai e evolui.
Muitos preferem nos observar pelo perigo corrido. Agarrados a traumas e histórias, evitam o risco da inevitável paixão. Se uma frustração da vida ou um risco nos fizessem evitar o que é bom, jamais aprenderíamos a andar. Sequer nos daríamos o direito irresponsável de amar.
Andar de moto, mais do que voar, é como viver sem medo. É compreender limites sabendo que, quanto mais rápido e mais leve, mais gostoso e perigoso fica.
Se um dia me perguntarem como pode um ser humano voar, serei o primeiro e lhe entregar um capacete e pedir que me siga.