Pensamentos crônicos Relatório de Evidências

Tesouro

Escrito por Letícia Nascimento

Algumas coleções são verdadeiros tesouros, mesmo que sem nenhum valor monetário.

Entra ano, sai ano, as grandes faxinas chegam, os desapegos ocorrem e aquela grande caixa de papelão continua ali. Já me desfiz dos CDs de quando era uma jovem DJ, os VHS se foram um a um, e até mesmo alguns livros já lidos foram doados, mas não consigo me livrar deles.

Minha imensa caixa de DVDs parece mais parte de mim do que muitas outras coisas e não tem uma pessoa que tire sarro do meu apreço por essa tecnologia ultrapassada que me convença a abrir mão dela.

Talvez porque eu seja uma dessas apaixonadas pelo cinema desde pequenininha; talvez porque quando perguntei ao meu pai com o que eu mais tinha gastado o dinheiro dele a resposta tenha sido “locadora”; talvez porque eu passei anos garimpando cestas nas Americanas e negociando com outros cinéfilos títulos que eu não encontrava em lugar algum; talvez porque eu tenha reunido praticamente toda a filmografia de vários ídolos, como Kubrick, Hitchcock e Scorsese…

É fato que já tentei e não consigo abandonar aquelas caixinhas que sei que, dificilmente, abrirei novamente.

Acho que esse é o grande barato das coleções, afinal. Você leva tempo, gasta dinheiro, busca, encontra, negocia, perde; itens que deseja muito e que te deixam com um sorriso de orgulho quando estão em seu poder.

Mesmo que eu não tenha espaço na estante para os meus DVDs há mais de dois anos, não tem uma vez que abra aquela caixa e não fique feliz quando relembro que tenho aquele filme comigo, bem pertinho de mim. Mesmo que ele esteja disponível a um clique na Netflix.

Para mim, aqueles filmes escolhidos e desejados são também parte de quem sou. Os momentos nos quais os assisti são parte da minha história. E mesmo que eles não tenham se tornado os novos vinis e não valham muita coisa, do ponto de vista financeiro, eles são parte do meu tesouro.

O que é que tem no seu?

Sobre o autor

Letícia Nascimento

Jornalista por formação, redatora por rotina, roteirista de alma, deseja um dia ter a audácia de se intitular escritora. Ama bebês, cachorros e fofuras em geral. Cinéfila que assiste de tudo, viciada em séries e leitora apaixonada. Possui todos os distúrbios possíveis do sono, luta contra a ansiedade crônica e a fibromialgia com humor e acidez. Parece jovem mas joga gamão nas horas vagas.

4 comentários

  • Me lembrou a cena do filme Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, quando a personagem Clara, interpretada por Sônia Braga fala de seus discos. Aos objetos e lugares colamos lembranças que são partes de nós.

    • Nossa, que lembrança deliciosa, Juliana! Obrigada também por essa frase linda: “Aos objetos e lugares colamos lembranças que são partes de nós”. Seja bem-vinda ao Crônicas!

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