Divã-neando

Como superar um fora

Escrito por Patrícia Librenz

Pés na bunda acontecem, relacionamentos acabam, mas não é porque você levou um fora que não pode tirar algo bom disso.

Ao longo da vida, eu recebi alguns “pés na bunda”. Quem nunca, né? Quando eu era muito jovem, não conseguia tirar nenhuma vantagem deles, apenas ficava na merda, sentindo pena de mim mesma e me lamentando. Com o passar dos anos, fui amadurecendo e percebendo que eu tinha, basicamente, duas escolhas diante de uma rejeição: poderia ficar me martirizando e remoendo os meus erros ou aprender alguma coisa com aquilo. Foi então que eu passei a ter o hábito de tirar uma lição de tudo de ruim que acontecia na minha vida, de forma que isso me fizesse enxergar o “lado bom” de quase toda situação. 

Minha primeira tentativa de casamento não deu certo. Eu me mudei para Foz do Iguaçu duas vezes por causa da mesma pessoa (terminamos e fui embora; depois reatamos e eu acabei voltando). O relacionamento não deu certo de novo, mas eu acabei optando por ficar aqui. O que essa relação me trouxe de bom? Além do know how sobre relacionamentos, eu fiz faculdade, me formei, me superei passando em alguns concursos (isso fez eu perceber que eu era muito mais capaz do que eu acreditava). Graças a isso, hoje trabalho em uma instituição da qual tenho muito orgulho e onde fiz excelentes amigos. Eu tenho certeza que nada disso teria acontecido se eu nunca tivesse saído da minha cidade.

O relacionamento foi um fracasso? Não, porque as outras coisas que essa mudança me proporcionou valeram cada lágrima que eu derramei. Hoje sou casada com outra pessoa e sou muito mais feliz – e eu não teria conhecido meu atual marido caso não tivesse sido louca de jogar tudo pro alto e ter vindo morar em Foz do Iguaçu. Eu vim embora pra Foz para viver um grande amor e vivi – mas com outra pessoa. A frustração daquele amor me conduziu ao meu verdadeiro amor.

Outra frustração na minha vida que resultou em sucesso aconteceu em 2016. Foi esse último pé na bunda que me fez entrar no mestrado. Em 2015, logo após minha separação, eu cometi o erro de entrar em um relacionamento que, desde o início, eu sabia que era furada. O resultado de ter permitido uma pessoa tóxica entrar na minha vida foi catastrófico, pois aquilo tudo me fez muito mal e levou a minha autoestima (que lutei tanto para resgatar) para o ralo. 

Esse ciclo só chegou ao fim porque aquele infeliz foi embora (pra outra cidade) e isso me fez entrar em um estado de luto. No luto, percebi que eu precisava fazer alguma coisa para voltar a acreditar em mim e para ocupar minha mente. Durante quatro meses, tive uma vida monástica e, durante esse período, escrevi um projeto de mestrado, estudei muito, fui selecionada e, graças ao pé na bunda daquele embuste, sou mestre em Literatura Comparada! Obrigada, embuste – hoje estou até ganhando melhor! 

O seu amor te deixou? Dedique-se a você. Aproveite o tempo livre para ler, estudar; aumente seu repertório cultural. Elabore seu luto, mas faça algo por você durante ele. O pé na bunda que você levou hoje pode ser justamente o que vai fazer você sair da sua zona de conforto e mudar de vida para sempre.

Às vezes, quando a gente perde, a gente ganha; e, em muitos casos, nem é perda, é livramento! Então, um brinde a tudo o que deu errado: tim-tim!

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.

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