Que beleza!

Olhe-se

Escrito por Rose Carreiro

Se olhe, se conheça, veja seus defeitos, mas também a sua beleza. É um pequeno, mas valioso exercício de amor próprio.

Imagine-se em uma sala com espelhos por todos os lados. Trajando as menores roupas do seu armário, vendo seus membros flácidos, celulites, aquela pochete que insiste em subir por cima do cós dos shorts – e que faz qualquer mulher abominar ter crescido na década da calça de cintura baixa. E você tem que mover músculos, dobrar, esticar, flexionar, se soltar. Praticar pole dance – ou qualquer modalidade de dança – vai revirar o seu interior, porque você tem que, antes de tudo, exercitar o seu olhar sobre você. Mas, em verdade, eu vos digo: isso é bom pra c*ralho.

A gente se esquece de se olhar. Na verdade, a gente até se olha no espelho, afinal, qualquer um com um mínimo de vaidade penteia o cabelo, escova os dentes, faz a maquiagem, ajeita a gravata, tudo diante do seu reflexo. Mas a gente não se admira, não se observa.

Os defeitos estão ali, e você pode se incomodar com eles, querer mudar muita coisa na sua aparência, mas também pode aceitar. Pode melhorar sua versão graças aos cosméticos, treinos físicos, salões de beleza. Pode fazer aquela plástica ou colocar aquele peitão que vai levantar a sua autoestima como um balão. Mas também pode ver seus detalhes e sua beleza. Algo que talvez os outros notem, mas você não percebe porque não para pra se ver. 

Depois de um ano treinando pole, vendo o meu corpo se mexendo nas coreografias, tendo que observar como os músculos deveriam se encaixar, e testemunhando a minha cara de sofrimento e de felicidade com as pequenas vitórias de cada trava, hoje eu me olho muito. Paro pra ver aquelas rugas embaixo dos olhos, mas também me dou um hi-five mental quando vejo aquela curva de trás da coxa. Confiro se meus dentes ainda estão no lugar depois de levar um tombo, mas também conserto o batom e ajeito a franja na parede do elevador. E, de tanto me olhar, sinto que tenho me enxergado melhor.

A gente passa o dia diante de uma tela que vende felicidade em imagens irreais, filtros e retoques. Busca padrões absurdos de beleza e deseja corpos perfeitos, um elixir da juventude, umas injeções de botox. Mas, aprender se olhar não custa nada, e é um dos melhores exercícios de amor próprio que se pode praticar. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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