Texto enviado pela leitora Ariane Fagundes Braga
Um dia qualquer, conhecemos alguém que parece cumprir todos os nossos requisitos de uma pessoa bacana com quem gostaríamos de dividir o nosso tempo e as nossas vidas. O coração dá um salto. Algo dentro de nós, por um momento apagado, volta a brilhar com força. A existência daquela pessoa invade a nossa vida como uma avalanche de bons sentimentos e de satisfação. Sentimos a sensação de estarmos bem com o outro e com o mundo que nos rodeia, como se acontecesse ali uma espécie de conexão. E devemos assumir que isso é lindo e também poético. Em uma primeira análise, aquela pessoa parece vir exatamente dentro de uma caixinha de presente, com um belo envoltório colorido e uma fita bonita como decoração.
A convivência cria uma rotina quase de dependência em nosso cotidiano. Queremos compartilhar os detalhes do nosso dia-a-dia com a pessoa, contar a respeito do que pensamos e fazemos todos os dias. As coisas mais bobas parecem ter um novo sentido. A conexão foi estabelecida e, aos poucos, os laços vão ficando mais fortes. Depois disso, o hábito foi criado e estamos conectados de uma forma que só os apaixonados entendem.
Interessar-se por alguém é sempre uma aposta, um investimento de alto risco. Nunca sabemos se esse investimento vai dar certo, mas mesmo assim investimos tudo o que temos, apostamos todas as nossas fichas naquela relação. Sabemos que existe o risco de perdermos tudo e ainda ficarmos frustrados com a perda de um valor tão alto. Mesmo assim, estamos diante de algo sumamente humano: queremos acreditar e apostar no outro, precisamos disso para sentirmos que realmente a vida corre pelas nossas veias. Sentir-se vivo acaba pesando bem mais que a possibilidade de frustração.
E, diante da nossa necessidade de confiar no outro e de querermos que ele queira a nossa presença em sua vida, acabamos nos machucando. Percebemos que o outro nem sempre está disposto a investir o mesmo valor e de dar a mesma atenção que nós. Percebemos que as fichas que o outro apostou não chegam nem na metade do valor que nós apostamos. Começamos a insistir que o outro também deveria amar da mesma forma. E, então, inicia o nosso calvário de frustrações: o outro não nos quer como nós o queremos, o outro não está nem aí para o que sentimos. E o presente que vislumbramos, na verdade, é um presente de grego. Tal como uma flor, vamos murchando, cada vez mais secos e sem vida.
Entre os altos e baixos de uma relação amorosa, chegamos ao momento da separação. Romanticamente, ninguém pensa que esse momento vai chegar, pois o ser humano tem a tendência em pensar somente nos momentos de felicidade e de construção de situações felizes. E a separação dói, pois é uma quebra de expectativas, é o funeral das esperanças. Enterramos definitivamente todas as possibilidades e o “vir a ser” que pensamos em nossa aposta inicial. Mais um jogo, mais uma perda, mais fichas que perdemos no jogo da vida.
Cria-se um novo ciclo na separação. Voltamos a ser desconhecidos com pessoas que, até o dia anterior, eram tudo para nós, eram a mais bela aposta. Nesse momento de tristeza, a desconexão dói e o cultivo de novas esperanças parece impossível.
A vida é assim, vamos colecionando perdas, enterrando esperanças, lidando com a frustração. Quero acreditar que, em um dia qualquer, novamente algo vai acender e brilhar em mim. Mas hoje eu quero celebrar o meu luto, enterrar todas as minhas esperanças, pois só assim poderei fazer novas apostas futuras. Eu quero voltar a apostar todas as minhas fichas, mesmo que esse seja o jogo mais arriscado das nossas vidas.
Amar de verdade é para os corajosos.