Pensamentos crônicos Relatório de Evidências

Vizinhos, vizinhos, gente chata à parte

Escrito por Letícia Nascimento

Viver em apartamento ou em uma ilha deserta são duas coisas diferentes, mas tem gente que parece não saber disso

Cresci acostumada a ter os vizinhos quase como família. Bairro periférico, rua estreita, todo mundo se chamava pelo nome, as crianças brincavam juntas, receitas e ingredientes eram compartilhados, um cuidava da casa do outro – e até das crias e dos bichinhos.

Por isso, a mudança para um apartamento foi um baque. Morei por sete anos em um prédio e só soube o nome de um vizinho, porque uma vez achei que ele estivesse me perseguindo quando desci do ônibus à noite e ele veio colado em mim durante todo o trajeto: era meu vizinho de porta.

Estou há dois anos e meio em outro prédio e só sei o nome de uma vizinha e do síndico. Mas tudo bem até aí. Não preciso saber o nome de todo mundo para conviver bem em sociedade. Só que parece que tem gente que não nasceu para conviver bem, tampouco em sociedade.

Pela primeira vez, moro embaixo de vizinhos. No apto anterior, eu morava no último andar. Agora, acontece de ouvir os vizinhos de cima, naturalmente. Existe vida, existe som. Mas pela primeira vez, também, eu tenho um vizinho totalmente fora da realidade.

O vizinho de baixo reclamou que fazemos barulho, pasmem, andando descalços. Não, eu não confundi, você não leu errado. Loucura, né? Fiquei cogitando começar a andar, então, de salto alto pela casa, mas eu tenho esse manual intrínseco de boa convivência com vizinhos.

Aí, eis que nosso doguinho Linus passou a habitar a casa e, como todo filhote normal, ele brinca, corre, etc. Um dia esse vizinho reclamou às 19h que estava tendo correria com cachorro e bolinha. Hum…ok, vamos diminuir o barulho…Não vamos deixar ele jogar o brinquedo mais pesado no chão.

O nosso cachorro é minúsculo, sequer late… Fiquei pensando se ele tivesse o “azar” de morar embaixo do vizinho que tem três cachorros grandes…

Mas tudo bem. Vida que segue. De repente o bonito, pra não cair de nível, reclamou de ouvir o Linus andando. Descalço, né. Ainda não colocamos botas no cachorro. Isso às 20h. Minha paciência, que já é limitada, me fez responder curta e grossa: existe vida nesse lar e enquanto não aprendermos a flutuar, ele que lute para lidar com seu ouvido supersônico.

Cara chato do caralho!

Tudo isso pra dizer que morar em uma casa é um rolê totalmente diferente de morar em um apartamento e que se você tiver como escolher, como imagino ser o caso desse meu vizinho, você só deve ir para um condomínio vertical se você tiver em mente que vai ouvir barulhos, que vai dividir elevador, garagem, piscina, etc. Que é uma parada super coletiva e não um mosteiro budista.

Ou você pode ir morar no meio do mato com a sua chatice e lidar com os passarinhos e a mãe Natureza, que vai te ensinar o que é viver e não apenas existir.

Sobre o autor

Letícia Nascimento

Jornalista por formação, redatora por rotina, roteirista de alma, deseja um dia ter a audácia de se intitular escritora. Ama bebês, cachorros e fofuras em geral. Cinéfila que assiste de tudo, viciada em séries e leitora apaixonada. Possui todos os distúrbios possíveis do sono, luta contra a ansiedade crônica e a fibromialgia com humor e acidez. Parece jovem mas joga gamão nas horas vagas.

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