Divã-neando

Sem abraços

Escrito por Rose Carreiro

Usem álcool gel, máscara, luvas, fiquem em casa. Mas, quando isso passar, meus amigos, não me deixem sem abraços.

Me considero, para fazer uma linha bem generalista, um ser abraçante. E abraçável. Sou dessas que se relaciona com os outros falando pelos cotovelos e tocando mãos, braços, trocando beijos e abraços. Faço cafunés aleatórios nos chegados. Cutuco cravos das amigas, lhes faço tranças, ajeito seus cabelos. Trato meus clientes de maneira informal. 

Sou carente confessa. Necessito dos afagos, do toque, do quentinho de outros corações. Imagine, então, caro leitor, o inferno que se passa dentro de mim agora. O contato físico não é a coisa mais impactante na minha vida nesses tempos de distanciamento social, é claro, porque eu principalmente tenho pessoas com quem me importar, um trabalho a me preocupar, contas a pagar. E uma liberdade de ir e vir que eu gosto de pensar que está suspensa temporariamente. 

Problemas sérios à parte, eu sinto falta de gente. Sinto falta de beijar alguém no rosto, com carinho. De dar um abraço apertado, daqueles que a gente sente o cheiro do perfume do outro quando nosso nariz toca o ombro alheio. De sentir outras mãos nas minhas. De dedos no couro cabeludo, de palmas alisando as costas. Sinto falta dos despretensiosos cafunés que demonstram apreço. 

Não acredito que a volta à normalidade pós-corona faça com que as pessoas valorizem mais os gestos físicos de afeto. Nem que o tratamento entre as pessoas seja modificado pela atual e necessária falta desse contato. Quem é de beijo, seguirá sendo de beijo. E quem segura as mãos dos outros com dedos fracos não vai empenhar mais força para demonstrar satisfação no cumprimento. Mas, se você é meu estimado, saiba que a minha essência grudenta não vai mudar. Eu vou continuar querendo os chamegos, as demonstrações físicas de carinho, o seu calor humano. Porque eu não posso viver num mundo sem abraços. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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