O ano era 2013. Eu passava por uma fase de cumprir algumas pendências. Mudar a cor do cabelo; fazer as viagens que eu queria; começar a tocar um instrumento musical.
Comprei um violão e, sete anos depois, já era para eu estar craque, certo? Certo. Mas, como muitas coisas na vida, eu nunca me dediquei o suficiente. Então, errado.
Mas, este texto é justamente sobre recomeços.
Naquele longínquo 2013, eu fiz um mês de aulas e abandonei, porque não gostei do professor. E daí em diante, foram várias idas e vindas – como muitas coisas na vida, mas eu já disse isso.
Entre videoaulas e incessantes tentativas de aprender uma mísera música, intercaladas com meses sem nem olhar para o violão, em todo este tempo eu não evoluí muito, como era de se esperar.
Aprendi alguns acordes fáceis, com os quais você pode tocar praticamente 90% do repertório desses cantores de barzinhos – e descobri que dá pra enganar as pessoas assim.
Mas, quando chegou a hora de fazer a temida pestana, a coisa ficou complicada. Essa parecia uma barreira intransponível entre mim e diversas músicas que eu queria tocar.
Com a quarentena, o insuportável isolamento e a quantidade absurda de tempo livre – usado, na maior parte das vezes, para pensar besteira -, achei que seria um bom momento pra re-recomeçar.
Instalei o aplicativo que ajuda a afinar as cordas – porque é claro que eu não sei afinar “de ouvido”. Resgatei as cifras das músicas que eu já tinha aprendido e recomecei por elas. “Só pra fazer calos nos dedos de novo”, pensei. É reconfortante a sensação de conseguir tocar uma música inteira, e me deu exatamente a empolgação que eu precisava.
Comecei a me arriscar por outras um pouquinho mais difíceis. “Espera aí, como que é o Si bemol mesmo?”. E para tudo de novo pra aprender o acorde. Descobri que entre o Dó e o Si há muito mais do que sonha nossa vã filosofia.
Mas, uma desafinada aqui, uma corda abafada ali, a famigerada pestana vai saindo, ainda bem desajeitada, mas já não parece algo impossível.
“Ok, entendi os acordes, mas não consigo pegar o ritmo”, também é algo bem comum. E descobri que tocar e cantar ao mesmo tempo exige uma coordenação motora que parece muito acima das minhas habilidades.
Mas, com bastante insistência, às vezes sai algo que, de longe, até parece música. Nada muito afinado, é claro, mas cada pequena vitória importa – muito embora meus vizinhos provavelmente não pensem o mesmo.
Tablaturas? Calma, também não precisa exagerar, né? Uma coisa de cada vez. Quem sabe um dia eu consiga dedilhar um solinho mais modesto, ou usar uma palheta. Mas, por ora, estamos naquelas músicas que provavelmente uma criança de quatro anos tocaria melhor do que eu. Mas, quem se importa?
O importante, para mim, é continuar me desafiando, conseguir ocupar meu tempo (e minha cabeça) com algo que não seja a situação catastrófica do mundo e, quem sabe, resgatar um pouco da minha autoestima e da minha autoconfiança aprendendo algo novo. E tentando memorizar onde é mesmo que fica o tal Dó maior com nona.
Não tenho nenhuma pretensão profissional com a música nesta vida, mas acredito que não faz mal algum adicionar mais um item à minha lista de “coisas nas quais sou péssima”. Porque, no fim das contas, não importa muito se você é péssimo ou excelente em tudo o que faz. Só importa que isso te faça feliz. E, no momento, saber fazer o G em pestana é bem próximo do que eu posso chamar de felicidade.