Há mais de 60 dias que, segunda-feira, sexta ou domingo, tanto faz. Os dias são todos iguais.
Com o isolamento prolongado, às vezes parece que a gente perde a noção do tempo – e até do espaço.
Outro dia, desci para levar o cachorro fazer xixi e me peguei admirada olhando para um prédio que está sendo construído aqui ao lado. “Que grande”, pensei. É como se o mundo lá fora, de repente, tivesse ficado tão vasto, tão aberto – muito diferente das paredes pelas quais estou cercada 24 horas por dia.
Até mesmo alguns hábitos que eu jamais tivera, agora adquiri. Como o de ligar a televisão só para ficar ouvindo o noticiário enquanto faço outras coisas. (Não recomendo, aliás).
Sexta-feira não tem mais o mesmo gostinho de liberdade, daquelas pequenas transgressões a que a gente se permite no fim de semana: beber um pouco mais, dormir mais tarde, não ter hora para acordar no dia seguinte. Hoje em dia, tanto faz. Vamos ver qual a live do dia no YouTube e terminar essa garrafa de vinho. Sextar ganhou um novo significado. E ele é bem insosso.
Eu só consigo diferenciar os dias da semana pois, de segunda a sexta, tem o home office. Mas, terminar o trabalho também não tem mais o mesmo sabor. Aquela sensação de “sair da firma e ir para casa descansar” não existe mais. Tecnicamente, eu só saio da cadeira e vou para o sofá, ou para a cozinha, tudo ao alcance de menos de dez passos.
As conversas com as pessoas são todas pelo WhatsApp, ou pior, pelas terríveis videoconferências – há quem ame, mas eu não faço parte deste grupo.
A essa altura do campeonato, até o Spotify parece que já se cansou de mim. E o catálogo da Netflix ficou ainda mais tedioso.
Quando todos os dias são assim, tão insuportavelmente iguais, eu começo a pensar que talvez a minha geração tenha crescido muito mimada e cheia de estímulos, mas a verdade é que fazer de tudo para meramente sobreviver é chato demais.
Mas, se tem algo de positivo que podemos tirar de tudo isso é que muita gente aprendeu a fazer pão.