Eu sempre gostei de escrever sobre coisas reais, sobre o que acontecia comigo, sobre as pessoas que cruzavam minha vida, sobre romances reais ou pseudoimaginados, sobre histórias que eu criava no ônibus, com personagens que eu nunca mais ia ver novamente.
Mas veio a pandemia, a quarentena e o isolamento e meu mundo pausou. Ainda trabalho, ainda pago boletos, ainda falo virtualmente com amigos, mas parou por aí. E a vida entrou num ciclo em looping rotativo que se repete de novo e novamente e mais uma vez, com o perdão da redundância proposital.
De onde eu vou tirar histórias reais para fantasiar, aumentar e criar em cima? De que esbarrões inocentes no corredor de um mercado, eu vou montar diálogos que nunca existiram mas poderiam existir? De que troca de olhares no metrô, eu vou juntar duas pessoas que nunca ficariam juntas?
Falar sobre a vida, quando a minha própria vida se resume a quatro paredes e algumas janelas virtuais para o mundo não é algo fácil.
Sim, eu sei que essa é a função de um escritor criativo. Mas, por enquanto, o máximo que eu consigo escrever é sobre o quanto eu estou com dificuldade de escrever.
Antes as estórias vinham de acontecimentos. Hoje os acontecimentos tb precisam ser imaginados. : ) Bora viajar na imaginação.
Sempre quis ter tempo de sobra para me dedicar à escrita, mas fiquei tão irritado com essa situação pandemica que me faltou concentração. Foram três meses de desperdício e somente agora estou, finalmente, sendo produtivo novamente.