Cantinho da Leitura Pensamentos crônicos

Entre pais e filhos

Escrito por Bruno Zanette

A relação de afeto de um pai por sua filha de repente foi transformada em distância e saudades.

O grande sonho de Edson era ser pai. Além de adorar crianças, em especial seus sobrinhos, mantinha certo espírito infantil com suas pequenas coleções de carrinhos, aviões, personagens de Star Wars, esse tipo de material.

Mas, para ser pai, primeiro Edson precisaria encontrar a pessoa certa para ser a mãe de seus filhos, alguém que compartilhasse com ele os mesmos desejos e sonhos. Nesse quesito, o jovem rapaz de trinta e poucos anos não tinha muita sorte.

Por dez anos namorou uma moça que não pretendia casar, muito menos ter filhos. Mas os dois se amavam e se davam bem, até que chegou uma hora em que Edson não conseguiria levar essa vontade de ser pai adiante, decidiram terminar.

Em defesa das mulheres pelas quais passaram pela vida dele, pesa que ele não era alguém fácil de lidar. Tinha suas manias. Trabalhador, sim, porém meio fora da casinha. Após um período saindo com outras diferentes mulheres, encontrou alguém com a qual sentiu que finalmente subiria ao altar e poderia construir uma família.

Entre namoro e casamento foi até relativamente rápido, cerca de 1 ano. A festa foi sublime, tudo estava perfeito. Mas, na lua-de-mel já começaram as primeiras brigas. A relação dos dois parecia ter mudado da água para o vinho logo após o “sim”.

Foram levando, tinham acabado de casar, pensavam que casamento era assim mesmo, “casais brigam, mas depois se entendem”. Logo veio a notícia da gravidez. Edson era felicidade pura, finalmente seria pai. Alguns meses depois, descobriu o sexo do bebê, uma menina. A alegria de Edson só aumentava. O nome escolhido foi Luciana.

Só que, como era esperado, o casamento não durou muito. E veio o baque, sua filhinha iria morar com a mãe, como normalmente acontece nesses casos. Edson quase surtou com isso, chegou a pensar que iria enlouquecer e esteve a ponto de cometer alguma besteira, suicídio ou homicídio. Teve que se conformar com essa nova vida, de visitar e ver a filha em dias específicos. E determinados pelo juiz, pois não teve acordo amigável entre o casal.

A filha de Edson foi crescendo e a relação entre pai e a menina, apesar de não morarem juntos, era considerada a melhor possível. Ele fazia tudo por ela. Comprava roupas, brinquedos, ia ao cinema, levava para passear no shopping, tomar sorvete, viajavam juntos para diferentes lugares. Pagava a pensão regularmente. Sim, porque também era o mínimo a se fazer.

O tempo passou, Edson casou novamente, teve uma segunda filha, e as duas irmãs se deram muito bem. Apesar de alguns incômodos que Edson tinha com a ex-esposa, a vida dele parecia feliz com as filhas.

Veio, então, a adolescência da filha mais velha. Dúvidas, incertezas, diversos pensamentos nesse período de formação de personalidade e caráter. Por mais que Edson fizesse de tudo pelas filhas, ele falhava em alguns momentos, especialmente nos de dar maior atenção, dialogar com elas. Tudo bem que com a mais nova ainda não tinha idade para conversas mais avançadas, mas com Luciana ela já entendia. No entanto, essa oportunidade ele não aproveitou.

Até o dia em que Luciana, de repente, decidiu que não queria mais passar os finais de semana aos quais Edson tinha direito com o pai. Simplesmente mandou uma mensagem dizendo que não queria mais vê-lo por um tempo. Não se sabe se por vontade própria ou influenciada pela mãe.

Edson, ainda tentando entender os motivos, procurava saber onde havia falhado. Ele ligava, a filha não atendia. Mandava mensagens, não eram respondidas. Até que Edson decidiu seguir o pedido de Luciana e não mais a procurou.

Lamento por ela, que tem a oportunidade de ter um pai por perto e abre mão desses momentos. Um pai que pode não ser perfeito (e qual pai consegue ser?), mas que se esforçava ao máximo para falhar o menos possível. Luciana deu sorte de não ter sido mais uma órfã de pai vivo, aqueles que renegam seus filhos, como milhares de casos existentes no mundo.

Quando Luciana se der conta disso, se é que esse dia vai chegar, pode ser tarde demais. Muitos gostariam de estar no lugar de Luciana: ter um pai. Nem todos têm esse privilégio.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

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