Após dois anos, mais de 700 dias depois, a Fórmula 1 voltou ao Autódromo de Interlagos. Agora, com um novo nome, chamando-se GP São Paulo, uma das exigências financiadas na renovação do contrato da maior categoria do automobilismo mundial.
Seja nas arquibancadas ou pela televisão, quem assistiu à corrida deste fim de semana viu uma grande performance do piloto inglês da Mercedes, Lewis Hamilton. Ainda que seu carro pudesse estar com algumas irregularidades, ele não deixou de cumprir as punições impostas pelos dirigentes e fez duas provas de recuperação. Uma no sábado, 13 de novembro, na chamada Sprint Race, corridas curtas que os organizadores criaram em algumas etapas na véspera da corrida principal e que valem para a formação do grid de largada. Saindo em último nessa corrida de menos de 30 voltas, Hamilton ultrapassou 15 carros e terminou em quinto lugar. Como perderia cinco posições no domingo por causa da troca de motor, ele largou em décimo.
Da décima posição para vencer, para seguir para a glória, para ficar de vez na memória dos brasileiros mais saudosistas, fãs de Senna assim como o heptacampeão mundial. Antes de cruzar a linha de chegada em primeiro lugar, travou uma árdua batalha com o holandês Max Verstappen, da Red Bull, líder do campeonato. Na primeira tentativa, os dois chegaram a sair da pista. Hamilton estudou direitinho o seu principal adversário na busca do oitavo título, e deu o bote certeiro para se consagrar.
Após a bandeira quadriculada, Hamilton foi atrás de outra bandeira, a brasileira, repetindo o gesto feito tantas vezes pelo ídolo na McLaren. Até quem não acompanha muito o esporte confessou ter se emocionado. Pela primeira vez nos últimos três anos, alguém segurando a bandeira do Brasil, sem imaginarmos ser um demente ultraconservador de direita, apoiador do genocida. Como bem lembrou o amigo Guilherme Alves, “é porque Hamilton não é brasileiro”.
Por falar em nossos conterrâneos, o Brasil não tem um piloto na F1 em uma temporada completa desde 2017, com Felipe Massa. Vitórias na categoria, então, não ocorrem desde 2009, com Rubens Barrichello. Títulos ao país não vêm desde 1991, com o tricampeonato de Ayrton Senna. Por isso a torcida no Brasil se identificou tanto com o gesto de Hamilton.
No fundo, brasileiro não gosta de esporte. Brasileiro gosta mesmo é de ver outros brasileiros ganhando. Ainda que seja um emprestado da Inglaterra.