Antes de compartilhar aqui a minha saga junto à barra que é gostar de você, vamos aos disclaimers: eu já fui uma cuzona pessoa preconceituosa, e achava que o pole dance é coisa de quem quer mostrar pra todo mundo que é o supra-sumo da sensualidade; e eu escolhi praticar o pole dance justamente porque precisava me enxergar com essa sensualidade. As duas concepções são uma farsa, já adianto.
Eu demorei muitos meses, desde o despertar do interesse, até tomar coragem e marcar uma aula experimental (e olha que a escola de dança fica a uma quadra da minha casa). Foi aí que eu me vi num mundo de tops e shorts, trilha sonora de Rihanna, mas também de hematomas e muitos tapas na cara.
O pole dance é sobre mulheres fortes, e minha professora é, além de dura, uma pessoa iluminada e proclamadora de muitas lições de moral. No começo, me sentia descoordenada e velha demais pra isso, e os golpes vinham toda vez que eu abria a boca pra contestar minha capacidade, pra reclamar que doía, ou pra dizer que era algo impossível pra mim. Na segunda semana, quando eu já estava chorando porque não conseguia fazer nada, Neyva me devolveu o lamento com um top socão, e perguntou: há quantos anos você está praticando pole dance mesmo? Durma com essa.
E, além do dilema diante dos exercícios, tinha também a insegurança quanto à aparência: nas minhas primeiras aulas, em pleno Janeiro, lá estava eu de regata, porque não tinha coragem de ficar só de top na frente das minhas colegas. No fundo, a covardia era pra comigo mesma diante daqueles espelhos. Felizmente, de tanto ver corpos com formatos e curvas tão distintos, fazendo movimentos que não limitam ninguém por conta de tamanho ou beleza, passei a perceber que o mundo do pole dance é feito de pessoas que se aceitam, e vão olhar pra você como você é.
O pole dance – e a Neyva! – insistem que eu tenho que fazer meu corpo escutar minha mente, e entender que não há limites. Eu sinto até falta das aulas de Física, porque o pole é muito mais sobre impulso, ângulo e posição do que sobre malemolência e força. Porém, se a essa altura, vocês já imaginam que eu consigo fazer aquelas altas manobras com domínio e leveza, sinto decepcioná-los, mas a realidade é que eu vou até o estúdio, me alongo, estico e puxo, recebo novos movimentos pra treinar – e raramente os executo de primeira.
Depois desses três meses, eu queria conseguir flutuar em volta da barra e postar por aí aqueles vídeos maneiros de trava de pernas. Mas, ainda lamento por ter que sair por aí com as pernas roxas de tanto me bater tentando um giro novo. E é claro que eu queria me sentir mais sensual agora. Só que cada aula me joga na cara que não tem giro lindo sem prática (nem alongamento perfeito sem espacate), e que não existe glamour digno de Instagram quando você sai do estúdio com as coxas assadas.
Apesar de estar longe de ser uma Alzira e não poder me apresentar nas boates esperado ganhar notas de dólares, ainda assim, o pole é o que hoje mais me anima e desafia. Se vocês voltarem ao primeiro parágrafo e me perguntarem afinal, do que se trata o pole dance, eu só posso dizer que o pole dance é sobre onde, toda semana, eu vou levar mais um sacode, sentir dor e ficar cansada e, invariavelmente, reclamar; mas também é sobre eu me olhar no espelho e me concentrar em mim; é sobre eu me esquecer da vida; é sobre conviver com mulheres maravilhosas; e no final das contas, é sobre eu me aceitar, avançar e me sentir capaz.