Quando se trata de falar sobre expor uma ideia, a questão parece simples. Hoje, ter julgamento ou opinião sobre qualquer assunto – de castração de bode a lançamento de foguete – está diretamente ligado a ser uma pessoa de personalidade, praticamente um mestre dos magos da vida cotidiana. Mas, pensando melhor, na maioria das vezes, as pessoas estão utilizando esses recursos da liberdade de expressão de forma equivocada, que beira a falta de cordialidade, e o resultado é um cenário bem feio e bem empobrecido de virtudes tônicas.
Por conta disso, em meus pensamentos mais lúdicos, notadamente na presença de meu sabonete líquido, que é testemunha fiel de meus idealismos desde 1984 – quando sequer sabonetes líquidos existiam -, me ocorreu um maroto trocadilho com aquele verso anos 90 que todo brasileiro vivo ou morto conhece: “Qual a diferença entre o charme e o funk? Um anda bonito e o outro elegante.” Pois então, essa é a diferença entre a opinião e a crítica. Opinião anda bonito, e crítica, elegante.
Digo isso, pois deparando recentemente com questão embaraçosa do tipo “que acontece”, me obriguei a refletir luz, clarividência e mediunidade, e concluí de forma centrada que sim, essa diferença existe, ela quase pulsa e sempre pula de nossas bocas e dedos como um animal feroz e faminto. E pula, nem sempre para o bem, nem sempre para o mal, nem sempre ao céu e nem sempre ao inferno. Mas, veja bem, descobri tal qual Bartolomeu Dias (aquele das navegações) que em qualquer que seja a ocasião, o Cabo das Tormentas chamado exagero pode se tornar o Cabo da Boa Esperança na medida em que esse exagero é dosado quase que por um experiente alquimista de Curriculum Lattes esculpido nas melhores academias da cidade, e assim nasce outra grande máxima dos dias atuais: “se for para exagerar, que seja sempre no bom senso.” E é verdade.
Portanto, no exercício desse crossfit diário que é a nossa brevíssima passagem no globo terrestre, que nos seja permitido sempre sermos exagerados de generosidades e bom senso, não só ao ostentar nossas opiniões agregadoras e relevantes, mas também fazendo com que haja uma explosão muscular entre a coesão e coerência dos nossos discursos, mesmo em ocasiões em que elas simplesmente não existam. Isso tudo para que no fim não sejamos vítimas da falta de cálcio da nossa própria existência e tampouco aqueles inglórios atletas do “insta”.
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