A beleza é algo muito difícil de conceituar. Há muitos “gostos” e opiniões diferentes e nenhum consenso a respeito do que é belo. O que/ quem é bonito para alguns, para outros, não é. Contudo, para se chegar a um denominador comum nesta crônica, é necessário definir um “padrão de beleza”. Vamos nos ater aqui àquela que se aproxima ao que vemos em “catálogos de produtos”, aquele padrão de beleza clichê que a indústria da moda busca.
Pois bem, seguindo esse padrão, existem mulheres lindíssimas, que, como diria minha mãe, têm uma “beleza hollywoodiana”, mas cuja autoestima é um lixo e, não raro, aceitam muito menos do que merecem. Em contrapartida, existem inúmeras mulheres por aí que estão muito longe de se enquadrarem nesse padrão de beleza que a ditadura da moda vem impondo e, que, mesmo com seus quilinhos a mais, narizes nem um pouco invejados, sorrisos que jamais estampariam sequer a página do Facebook do dentista recém-formado do seu bairro, estão super em paz com seus corpos. O amor próprio, quando equilibrado, é saudável e precisa ser estimulado e trabalhado constantemente. Essa tal autoestima é uma plantinha muito frágil, que precisa sempre de cuidados e de rega constante, mas, magicamente, o seu crescimento deixa as pessoas até mais atraentes.
Vocês irão observar que se optou por trabalhar aqui com a autoestima feminina, porque, ao que tudo indica, os problemas de autoestima atingem mais o sexo feminino do que o masculino – esse é outro ponto interessante, pois a maioria dos homens parece não só estar com a autoestima em dia, como também, em muitos casos, descalibrada (uma coisa é a pessoa se amar e se aceitar, outra coisa é idealizar uma autoimagem que não condiz com quem ela é).
Isso tem um porquê: historicamente, a mulher é muito mais cobrada socialmente do que o homem, inclusive nessa tarefa de “ser bonita”. Além de elas terem que ser sempre lindas, ótimas mães e esposas, donas-de-casa primorosas e, com a modernidade, ainda têm de ser excelentes profissionais, sem deixarem de estar sempre belas, magras, lembrando de cuidar da unha e do cabelo, mas sem deixar os cuidados com a casa e a família de lado! Com tantas cobranças para que sejam boas em tudo, é muito comum que as mulheres sintam-se fracassadas, porque, adivinhem só? Ninguém é bom em absolutamente tudo.
Com isso, vem aquela sensação de não estarem atingindo às expectativas que os outros projetaram nelas e a ilusão de que não estão sendo boas o suficiente ou bonitas o bastante – pois o mundo sempre espera mais das mulheres. Junte a isso o fato de o Instagram, o Facebook e a grande mídia ostentarem imagens de corpos completamente irreais, e o estrago está feito. Mulheres não são fotografias, são seres humanos. Frequentemente viralizam em algumas redes sociais prints de indivíduos arrogantes e egocêntricos “à procura da mulher perfeita”: a exigência? Não pode ter estrias, nem celulite, nem gordura localizada, precisa ter um corpo escultural e prótese de silicone nos seios. Esses homens não procuram uma mulher, e sim as esculturas das fotografias photoshopadas que a indústria da moda vende por aí e muito otário “compra”.
A partir do momento em que as mulheres aceitarem que não precisam ser perfeitas, as coisas ao redor delas começarão a mudar. A autoestima não tem nada a ver com a forma como os outros te veem e sim com a forma como você mesma se enxerga. Reconheça suas virtudes, trabalhe o que pode ser melhorado e ignore o que só é importante para os outros. Tudo que tiver relação à maneira como os outros veem você não deveria importar, pois a forma como os outros enxergam ou o que eles esperam de você, via de regra, é um problema deles e não seu.
A “beleza de revista” pode até ser útil para alguém ter seguidores no Instagram, posar para uma revista, entrar no Big Brother ou colecionar superlikes no Tinder… mas, no dia a dia, a beleza é até sufocada pela rotina, pois o que importa, de verdade, é você dar o melhor do que tem dentro de si nas relações interpessoais. Agora, se você não se amar em primeiro lugar, sinto muito, mas ninguém fará isso por você…
Então, a intenção aqui não é cultivar a hipocrisia: é evidente que a “beleza de catálogo” pode até encantar e aproximar pessoas, abre algumas portas, mas não mantém ninguém por perto. Ninguém se casa só com um corpo, mas com o ser humano que o habita; ninguém namora só um rosto.
As pessoas se apaixonam por sorrisos e ficam uma vida inteira juntas por admirarem qualidades que nenhuma câmera ainda foi capaz de capturar, por melhor que seja a lente. Assim, aquela velha máxima “quem ama o feio, bonito lhe parece”, é a verdade mais verdadeira desses tempos cruéis de ditadura da beleza. E, além da beleza não ter nada a ver com autoestima, a autoestima vai muito além da beleza física.
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