Cerveja, Mulher e Futebol

O futebol, a paixão e uma criança

Escrito por Thigu Soares

A paixão pelo futebol pode ser explicada? A gente prefere que não.

De todas as coisas desimportantes do mundo, o futebol é, com absoluta certeza, a mais importante.

Foi assim, num domingo de Sol, que pus à prova a paixão de uma pequena pelas cores que carrego comigo desde o ventre. Mesmo ventre que o dela, ressalte-se. Fiz do ex-caçula também um torcedor, mas o fanatismo, o apego pela narcose que o futebol promove não fez a cabeça dele. Ele sempre foi um tanto avesso à loucura de qualquer tipo, felizmente.

Clássico, todos diziam. Jogo complicado pra se levar uma criança, como apregoam por aí. O charme do campeonato estadual já não é mais o mesmo e o placar do primeiro jogo nos garantia um resultado com certa folga. Do outro lado, sobrava um rival que só tinha história e camisa, os times pareciam de categorias distintas.

Poupei seus pequenos passos em meio ao mar de gente que circulava no entorno do Maracanã colocando sobre meus ombros. Assim se fez a primeira festa. Vendo de cima aquele mundo pintado em vermelho e preto, olhava pros lados, buscava nossa mãe, olhava para um mundo de gente e festejava.

Sessão de fotos com a pequena, obrigações audiovisuais cumpridas com precisão e bom humor, e lá estávamos nós. Ela tossia um tanto, é verdade, mas a reação não vinha como consequência do espetáculo das fumaças.

Ficou ansiosa com nossa demora na entrada e subiu a rampa de acesso feliz e gritando. Parecia experiente, pelo menos até cruzar o túnel que nos levava à arquibancada. Nem o sol daquela tarde de falso outono iluminava tanto quanto seu olhar.

O sorriso, os olhos perdidos em admiração e felicidade faziam a minha alegria, que dividia todo bobo a minha atenção entre ela e o jogo.

Comemoramos o primeiro gol. Copo do ídolo da pequena, pequenos ensinamentos de nossos cantos e o incentivo aos pequenos insultos sem reprimenda que o futebol permite foram parte da primeira etapa.

No segundo tempo, a festa se tornava mais linda. Colada comigo, ela falava em meu ouvido sobre o céu e as cores do estádio, sobre a torcida, sobre o adversário e sobre Gabigol, seu ídolo. Vibramos e enlouquecemos com o gol de seu favorito. Pela primeira vez fui contra o VAR, que dificultou a explicação de que o golaço, a comemoração e toda nossa explosão fora em vão.

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Chorou inconformada ao ver seu predileto substituído e sorriu pulando e gritando “é campeão”! Descemos em meio à festa da rampa. Sobre meus ombros, a pequena continuava sua festa. Depois de toda essa pequena odisseia, a certeza do futebol marcado na história dela me traz um sorriso enorme de vitória!

A base vem forte!

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.