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A nojeira do futebol

Escrito por Bruno Zanette

Os esportistas devem ser referência, verdadeiros ídolos. Uma imagem que não combina nada com alguém condenado por estupro.

Quando penso que já me surpreendi o suficiente com o futebol, ao ver dirigentes de clubes anunciando a contratação do goleiro Bruno, condenado por matar a mãe do próprio filho e dar para os cachorros comerem, eis que surge o Santos, contratando o quase aposentado atacante Robinho aos 36 anos, e condenado na Itália por estupro coletivo.

Em 22 de janeiro de 2013, quando ainda jogava no Milan, o brasileiro e outros cinco homens teriam abusado e violentado sexualmente uma mulher de origem albanesa. A condenação a nove anos de prisão saiu em 2017, em primeira instância. Robinho recorre em segunda instância e pode até ter um terceiro recurso. De acordo com as leis italianas, são vários níveis de recursos e o veredito é posto em espera, até que todo o processo seja concluído. Até lá, nenhuma sentença é aplicada.

Com mercado fechado no resto no mundo (imagina-se que a falta de noção seja exclusiva do futebol brasileiro), Robinho retorna ao clube que o revelou, ao conquistar o Campeonato Brasileiro de 2002 e 2004, com as famosas “pedaladas”.

Vocês não imaginam o nojo que senti disso. Não entrando no mérito de não considerá-lo culpado até que o processo tenha transitado em julgado, e se tem provas ou não. Uma acusação dessas, ou pior, uma condenação disso, é uma mancha da qual ele nunca mais vai conseguir se livrar. A carreira dele acabou, ou pelo menos deveria ter acabado.

O esporte deve ser referência, passar imagens de superação. Crianças e jovens costumam se espelhar em atletas, verdadeiros ídolos de cada modalidade. Agora, imagina o quanto vai ser bizarro e asqueroso o torcedor gritar pelo nome de alguém condenado por estupro coletivo. Ainda bem que o acesso do público aos estádios segue proibido.

O pior é saber a quantidade de torcedores que aplaudiram a contratação do cara. Passando pano para uma acusação e condenação dessas. A maior pérola veio do presidente do clube, Orlando Rollo, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo: “Atire a primeira pedra quem nunca pecou”. Quer dizer que ele admite que Robinho cometeu o crime, ou no caso, o “pecado”? Bem que de “rollos” esse presidente entende.

Dirigentes de futebol possuem pensamentos bem amadores, em sua maioria. Gostam de jogar para a torcida e contratam jogadores ou treinadores que são verdadeiros escudos contra más administrações. Passam longe de uma postura ética e profissional.

Por falar em treinadores, Cuca, atual técnico santista, também teve das suas, quando era atleta do Grêmio. Durante uma excursão do time gaúcho em 1987 na Suíça, ele e mais alguns companheiros foram acusados de abusar de uma menina de 13 anos. Conseguiu se livrar da acusação, encerrou no final dos anos 1990 sua carreira de jogador e iniciou outra de treinador. Não é de se estranhar, portanto, que esteja agora passando a mão na cabeça de seu novo reforço. Certas atitudes conseguem fazer com que, aos poucos, a gente perca o interesse pelo futebol.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

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