Crônico Repórter

Perguntas para enfrentar a nostalgia da ditadura civil-militar (1964-1985)

Escrito por Juliana Britto

Apenas algumas perguntas para refletirmos sobre o golpe de 1964, e para garantir que nunca mais se repita.

Quando eles invadirão a minha casa para me prender?

Quando levarão o seu filho preso por críticas às injustiças?

Quando estuprarão a sua filha em interrogatórios clandestinos para que ela “entregue” os companheiros?

Quando te seguirão e vigiarão todos os seus passos até que você “desapareça”?

Quando seu pai terá que fugir do país para escapar da morte?

Quando sua mãe só terá uma missão, a de obedecer, agradecida ao marido, ao filho, ao chefe, ao pastor ou padre, ao presidente?

Quando seremos obrigados a fingir felicidade em meio ao destroçamento definitivo do país?

Quando ensinarão em cartilhas coloridas na escola a obedecer cegamente nosso líder supremo, escolhido e ungido por Deus?

Quando tropeçaremos nos corpos dos índios, dos negros, dos gays como quem dança um balé às cegas?

Quando só será permitido rezar ou orar de uma maneira e num tipo de igreja e templo?

Quando só rezar não será suficiente?

Quando só nos restará rir das nossas desgraças e compor belas canções?

Quando seremos definitivamente uma fazenda para exportação e um garimpo a céu aberto?

Quando amargaremos secas e enchentes devastadoras causadas pela destruição definitiva de nossas florestas?

Quando não mais teremos água abundante?

Quando morrer de fome e miséria não será mais um problema nacional?

Quando acharemos normal o enriquecimento predatório e repetiremos as velhas máximas: “Deus está no comando” ou “tudo o que consegui é fruto exclusivo de dedicação e superação pessoal, eles que se esforcem”?

Quando deixaremos de ser uma terra fértil para abrigar desertos?

Quando invejaremos os mortos por não suportar o que nos tornamos?

Quando a polícia terá autorização para nos prender e matar sem julgamento, sem crime?

Quando nos converteremos todos em delatores?

Quando poderemos chorar, enfim arrependidos por termos colaborado com a ascensão do neofascismo no Brasil?

Quando eu não poderei mais fazer perguntas?

Quando?

DITADURA NUNCA MAIS!

DITADURA NUNCA MAIS!

DITADURA NUNCA MAIS!

Há os que julgam que dar mais poderes ao inominável seria a solução. Imagino o que acontecerá se não pudermos mais reagir ao genocídio e ao assassinato da nossa tão frágil e defeituosa democracia.

#ditaduranuncamais

Sobre o autor

Juliana Britto

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