Por muitas vezes, decidimos relutar em botar um ponto final em um relacionamento, por medo ou insegurança de dizer que acabou, e é tão difícil aceitar que o fim é inevitável ou apenas aceitável que chega a corroer por dentro, como uma ferida que dilacera de dentro para fora.
Essa reflexão foi feita enquanto lia um trecho de “Madame Bovary” de Gustave Flaubert, e relembrava acontecimentos do meu passado:
“Ela começava olhando em volta, para ver se nada havia mudado desde a última vez que viera. Encontrava nos mesmos lugares as dedaleiras e rábanos-silvestres, moitas de urtigas cercando os pedregulhos e manchas de liquens ao longo das três janelas, cujos postigos, sempre fechados, descascavam sua sujeira sobre barras enferrujadas. Seu pensamento, de início sem rumo, vagava ao acaso, como sua galga que andava em círculos no campo, latia para as borboletas amarelas, caçava os musaranhos ou mordiscava as papoulas sobre um seixo de trigo. Depois, pouco a pouco, suas ideias iam se fixando e, sentada no gramado, que revirava com sua sombrinha, Emma repetia: – Por que fui me casar, meu Deus?”
Em síntese, quando você está preso na monotonia de um convívio enfadonho, em que seus risos são forçados, suas atitudes e pensamentos são só meras formalidades, pare e pense: ainda há felicidade nisto? O que eu estou fazendo aqui? É o medo da solidão, da sensação do vazio, de achar que jamais serei amado(a) novamente falando mais alto? Por que me machuco se a primeira pessoa a estar plena deveria ser eu mesmo (a)?
Ao prender-se a uma ilusão de um amor há muito desgastado, o respeito, o amor próprio, a segurança, o brilho no olhar, tudo se esvai como uma folha ao vento em fim de tarde no outono. Compreender a si mesmo, olhar para dentro, e descobrir de onde vêm os motivos que consomem algo que já foi inteiro e agora uma mera partícula é o primeiro passo para perceber que ninguém nunca vai te amar e exaltar você mais do que você mesmo.