Murphy Days

Murphy Days – Inevitável

Escrito por Mayara Godoy

Murphy, o Inevitável, está de volta, aprontando altas confusões no filme da Marvel.

Se os Vingadores soubessem quem é o verdadeiro vilão dessa e de todas as Galáxias, não perderiam tanto tempo caçando um bicho roxo que precisa de umas pedrinhas para se tornar todo poderoso.

Eu estou falando dele, o inevitável, aquele que me assombra desde o escaldante dezembro de 1986. Sim. Murphy está de volta.

Tudo começou há um tempo atrás na Ilha do Sol quando eu caí de bicicleta. Tá, na verdade provavelmente começou no dia em que eu nasci mesmo, mas, para fins desta história, vamos ficar com o dia 28 de abril, um belo domingo em que não era meu inferno astral, mas parecia.

Naquele dia, eu tinha apenas dois compromissos: editar os textos da semana do Crônicas e estar com meu traseiro bem acomodado às 22h para ver o novo episódio de Game of Thrones.

Mas, meus amigos resolveram marcar um rolê de bike e eu pensei: “por que não? O que poderia dar errado?”. Pois bem.

Naquela bela tarde de outono, pedalava eu, feliz, contente e confiante quando Murphy resolveu sussurrar um maroto “oi, sumida” no meu ouvido e eu levei um belíssimo de um capote da bicicleta. Como já contei anteriormente, quebrei um dedo e tive algumas escoriações pelo corpo, mas nada perto de me levar deste para o outro plano astral. Portanto, desde então, a única coisa que mudou na minha vida foi que eu passei a protagonizar, diariamente, cenas dignas de um sitcom de baixo orçamento – felizmente, testemunhadas unicamente pelo meu fiel cão, que por sorte não sabe falar e nem escrever.

Eu poderia me prolongar, comentando as situações ridículas por que passo toda vez que preciso lavar o cabelo, ou como eu me tornei uma peculiar dona de casa lavando roupas e louças com uma mão só. Mas vamos ao que importa.

Daí que eu tinha ingressos comprados para ver Avengers Endgame no cinema no dia 30, quase uma semana depois da estreia, e já estava com dores na lombar de tanto fazer o Neo do Matrix desviando dos spoilers.

Mas é claro que na situação deplorável em que eu me encontrava, eu não tinha condições de honrar meu compromisso com a causa da cultura pop, muito menos sabendo que iria permanecer três horas sentada na poltrona do cinema. Cabe pontuar, também, que, àquela altura do campeonato, eu ainda não conseguia dobrar o joelho, nem sentar, ou levantar, ou respirar sem gemer de dor.

Decepcionando meus colegas de cinema & mesa-redonda (bar) pós-filme, mas, principalmente, enfurecendo Murphy – que certamente já tinha planos para tornar aquela noite nada menos que memorável -, eu fiquei em casa.

E, não, a história não acaba aí, meus amores. Ajeite-se na poltrona, que a diversão está só começando.

Passei o resto da semana me dedicando à convalescença e, muito otimista com os resultados da minha melhora, resolvi comprar ingresso de novo para, finalmente, ver o famigerado filme, na segunda seguinte (dia 6, no caso). Como ainda não estou naquele pique para lugares lotados, comprei a matinê das 16h45 e resolvi ser ousada: fui dirigindo. Claro, por que não? Tal qual Humberto Gessinger, na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem.

Me vesti confortavelmente com meu moletom camuflado que virou meu uniforme agora, botei as lentes de contato para ver o maldito 3D e fui, maneta e cantarolando em direção ao shopping.

Cheguei cedo, tive tempo de comprar guloseimas e de ter um crush pelo moço do quiosque que instalou uma película nova na tela do meu celular, e entrei e me acomodei, realizada, na minha poltrona localizada precisamente no centro do cinema. “Eu venci”, né? Aham, Claudia.

Vi os 837 trailers anteriores ao filme e, no exato instante em que finalmente apareceram na minha tela aqueles lindos olhos azuis do Capitão América… minha lente de contato rasgou dentro do meu olho.

Você que está lendo isso e usa lentes de contato com certeza já teve essa desagradável experiência. E quem não teve… olha, nem sei como descrever a sensação.

Só sei que eu passei aproximadamente os 15 minutos iniciais do filme mexendo no meu olho na vã e inocente tentativa de colocar a lente de volta no lugar, no otimismo de que ela apenas tivesse se deslocado. Mas é claro que ali Murphy me mostrava que sua vingança é uma pipoca de cinema que se come com manteiga, e depois de muito cutucar o olho, finalmente um pedaço da lente pulou para fora. O resto dela eu nunca encontrei.

Mas, teimosa que sou, recusei-me a abandonar o cinema, e resolvi ver o filme assim mesmo. Sou dessas.

Só para resumir, foram três horas revezando entre fazer careta para fechar um dos olhos, vendo as cenas “menos importantes” desfocadas mesmo, ou me irritando com o cara do meu lado que, não bastasse tudo isso, ainda passou o filme todo mexendo no celular. Pausa para indignação com esse tipo de gente. Ok, prossigamos.

Por fim, o filme foi ótimo, mas preciso rever enxergando direito para ter certeza, e na volta eu vim para casa dirigindo maneta e cegueta, porque, bem, vocês já devem ter notado: eu só sei viver perigosamente. E… diante de Murphy, quem é Thanos mesmo?

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.