Relatório de Evidências

Ressaca

Escrito por Patrícia Librenz

Devido a ressacas da vida, eu já fiz várias promessas incumpríveis: prometi que nunca mais iria beber (tanto), nunca mais iria apaixonar (hahahahaha! Essa é boa!), que nunca mais iria me casar (ooops!) e, a última: que nunca mais iria me mudar (difícil…).

Quem, durante uma ressaca braba, já disse “nunca mais eu bebo”?

Devido a ressacas da vida, eu já fiz várias promessas incumpríveis: prometi que nunca mais iria beber (tanto), nunca mais iria me apaixonar (hahahahaha! Essa é boa!), que nunca mais iria me casar (ooops!) e, a última: que nunca mais iria me mudar (difícil…). Assim como a promessa de nunca mais beber, falhei miseravelmente em todas as citadas anteriormente. A verdade é que não temos quase nenhum controle sobre as mudanças que ocorrem em nossas vidas.

Minha penúltima mudança (quando saí de uma casa de três quartos com suíte, para um apartamento de um quarto) foi muito traumática e dolorosa. Eu não queria me mudar, mas as circunstâncias me obrigaram. Minha cachorrinha estava doente há 4 meses, eu estava gastando muito para pagar o melhor tratamento para ela e, se não baixasse as despesas, em breve não conseguiria mais honrar com meus compromissos financeiros. Mudei para um lugar mais barato e mais próximo do meu trabalho, tendo em vista que o deslocamento diário também gerava custos mensais altos.

Em meio a todo esse processo, minha avó faleceu e, duas semanas depois, minha cachorrinha. Ela passou só uma noite no apartamento novo. Pra piorar, eu ainda carregava o peso de um mestrado nas costas, já havia qualificado há quase 90 dias e seguia sem conseguir encarar minha dissertação e meu orientador. Foi tão difícil e estressante, que eu prometi ao meu marido (na época, namorado) que “nunca mais iria me mudar”. Que loucura!

É impossível cumprir esse tipo de promessa quando nem se mora em um imóvel próprio… quando se mora em um imóvel alugado, isso definitivamente não depende de nós. Felizmente, não tive nenhum tipo de problema com o antigo imóvel ou com o proprietário. Mas ocorreu uma série de mudanças em minha vida que me levaram a pensar em comprar a minha própria casa. O plano era realizar isso no médio prazo, mas, diante de uma “oportunidade de ocasião”, meu amor resolveu entrar de sócio nessa empreitada, e antecipei os planos. Então, não só descumpri a promessa da mudança, como ainda fiz o namorado virar marido “real oficial”.

E foi assim, caros leitores, que descumpri duas promessas em uma só: me casei novamente (mas dessa vez pra valer, de papel passado, e não só no esquema “vamos ver no que dá”, como já havia feito antes), e realizei outra mudança de endereço. Será esta a última? Sinceramente, espero que não.

Gostaria de jamais me acomodar, nem mesmo com esta sensação de conforto que a “casa própria” nos proporciona. Espero, daqui a 15 ou 20 anos, ainda ter fôlego para encarar a maior mudança da minha vida: realizar meu sonho de voltar a morar no litoral e me aposentar com o pé na areia da praia…

Enquanto isso, vou ficar bem quietinha aqui no meu canto, esperando a ressaca da última mudança passar… e acho que esta será a mais longa de todas!

Créditos da imagem: Freepik

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.