Pensamentos crônicos

Nem tudo é o que parece

Escrito por Raphaela Lourenço

Quantas vezes julgamos as pessoas de rua por sua aparência ou condição?

Nessa semana, parada no semáforo, um senhor de idade veio à janela do meu carro:

– Moça, quer jujuba?

Eu peguei algumas moedas que ficam em um compartimento que sempre deixo meus trocos, mas nem peguei a jujuba, só queria ajudar mesmo. Dias depois, o mesmo ocorreu, em outro semáforo, embora da mesma rua. Ao contrário do velhinho simples, de roupas humildes e chinelos menores do que seus pés, esse que veio me oferecer paçocas era jovem, com roupas boas, tênis bonitos e um boné preto virado para trás.

Na hora eu pensei em ajudar, mas quando olhei meu porta-moedas, o que tinha era menos de 25 centavos, então disse a ele que não queria. Ele me agradeceu de toda forma.

Fiquei olhando para ele e minha mãe, que estava comigo, perguntou o que eu olhava. Eu disse que achava estranho o fato de um rapaz tão jovem e bem arrumado estar vendendo no sinal. Ela me respondeu algo que me fez pensar sobre muitas outras coisas:

– O fato de ele ainda ter roupas boas, ser jovem ou ter sapatos bons não quer dizer que ele não está vivendo a crise e tenha um emprego. Ele está sobrevivendo como consegue.

Isso me fez refletir sobre o quanto somos hipócritas e mesquinhos em julgar as pessoas apenas por sua aparência. Se um bêbado pede dinheiro na rua, temos a frase pré-pronta na cabeça “não vou dar dinheiro para ele gastar em cachaça”, sem pensar que o fato de ele estar de tal forma é momentâneo. Pessoas alcoolizadas também sentem fome, precisam de um lugar para dormir e a ajuda de quem pode ofertar pode mudar uma vida, afinal você não sabe a causa que o levou a beber, não sabe pelo que ele está passando. Por que bater o martelo e sentenciar sem estender a mão para oferecer ajuda?

Muitas dessas pessoas que vivem de esmola não sabem nem como sair da situação em que se encontram. Se não fizermos por eles, ninguém mais o fará. Eles não têm força e capacidade para isso, essa força se perde no descaso.

O ensinamento de “amai aos outros como eu vos amei” não foi deixado à toa, mas como amar é até um pouco difícil, tendo que o amor é construído em relações e convivência, acho que ao menos não ser preconceituosos e ignorar a necessidade do próximo já é super válido. Não deixe o mundo girar apenas em torno do seu próprio umbigo, você não vive sozinho nesse mundo.

Sobre o autor

Raphaela Lourenço

Nascida em 1º de setembro de 1991 quando o rock era sensacional!

Cinéfila inveterada, rançosa por natureza, Felícia de gatinhos fofos, dramática como Emily Brontë, viciada em histórias de serial killers, jovial como Machado de Assis.

Militante de roupas plus size estampadas, sutil como um rinoceronte, escritora de literatura erótica, mas com muitíssima classe!