Qualquer muro de sorrisos é capaz de esconder um interior devastado. Com o tempo, ficamos bons nisso. É quase como um ofício, que se aprende com o tempo e com a prática. Trabalho, família, pessoas. A vida, como um todo, nos obriga mais a parecer do que a ser. A gente finge.
Quem olha a fachada bela ou divertida de uma casa, não imagina qualquer ruína ou bagunça em seu interior. Às vezes, somos traídos pelas janelas indiscretas dos olhos, e nota-se algo fora de ordem lá dentro.
Os móveis emocionais se arrastam sem parcimônia, arranhando o piso da sanidade e marcando paredes da memória sem que ninguém clame por ordem no recinto. Tudo vai ficando na mais absoluta desordem.
Encarar a vida exige encenação também. É como blefar em momentos adversos, sem que qualquer sinal de fraqueza possa ser percebido. É receber os golpes duros do cotidiano a seco, sem que o público perceba seus efeitos reais, e continuar a luta. Como um lutador que apanha, sorri e balança a cabeça para seu adversário.
Sua fachada há de permanecer intacta, como a única fortaleza de sua própria edificação. Ainda que o interior esteja caótico, o sorriso protegerá suas ruínas do mundo, ao menos enquanto for possível.
Afinal, nem sempre é possível se afogar em lágrimas libertadoras ou se deixar levar pela tristeza que assola. No mundo real, a gente aprende a chorar sorrindo.