Vivemos o tempo da instantaneidade. As 24 horas do relógio parecem não atender mais às nossas rotinas frenéticas. Precisamos fazer mais em menos tempo. Temos que produzir, consumir e otimizar. Estamos na era do quanto mais, melhor – desde que em menos tempo.
Essa correria incessante transforma quase todas as nossas atividades em momentos efêmeros. Estamos aqui, mas com a cabeça lá, e resolvendo pelo smartphone assuntos de acolá.
Mal temos tempo de digerir a refeição, ou de saborear o momento. A sobremesa fica para depois, quando der. Se der. Conversas são condensadas em mensagens de texto, de preferência abreviadas para economizar alguns milissegundos. Tempo é dinheiro. E nós temos cada vez menos. Se não for urgente, é dispensável. Se consumir tempo demais, talvez não valha o esforço.
E essa mesma lógica de escala industrial com que temos tocado nossas vidas profissionais tem também se aplicado aos nossos relacionamentos. Não mais investimos tempo nas pessoas. Nos contentamos em ver nossos melhores amigos uma vez a cada seis meses. Almoçamos com nossos pais uma vez por mês pra cumprir o protocolo. Substituímos as tardes preguiçosas em que sentávamos todos sob a sombra de uma árvore para jogar conversa fora por horas muito produtivas em busca de algum novo certificado para bater uma meta.
Não nos permitimos entrar de corpo e alma num relacionamento. Tudo é difícil, longe e custa caro. E normalmente temos outras opções mais fáceis ao alcance da mão. Não queremos nos esforçar. Queremos que a pessoa certa venha servida numa bandeja, perfeitamente adequada aos moldes que idealizamos. Se não for assim, desistimos antes mesmo de começar.
Nossas relações não têm mais início, meio e fim. Pulamos do quase-início direto pro final, e o meio disso não passa de um limbo disforme e incômodo. Deixamos tudo não dito, não definido, não resolvido. Colecionamos fracassos que sequer tiveram a chance de se tornar vitórias. E assim acumulamos frustrações e desafetos, e incontáveis casos de pseudo-amores que foram vítimas de nossa preguiça e de nosso relapso.
Sepultamos nossos finais precoces sete palmos abaixo do verniz de gente feliz e desapegada que ostentamos nas redes sociais – enquanto rolamos a tela lamentando mais uma noite de solidão.