Admito que conservo poucos sonhos genuínos, daqueles que parecemos crescer desejando. Mesmo assim, acredito que existem vontades que, por mais que você renegue, elas permanecem. Ainda que se discuta com a vida e que ela pareça, em alguns momentos te negar o que você deseja, aquilo perdura. Assim é meu sonho de ser pai.
Acho natural que, para alguém que confia tão pouco em suas qualidades, um sonho assim assuste. A realidade soa mais dura do que doce quando avaliamos com frieza a prática das coisas. O ser humano não nasce pronto, e filho parece só dar trabalho pra sempre. Tiro por mim, imaginando as dores de cabeça que dou e dei com o passar do tempo.
Acontece que, quando algo não sai da nossa cabeça, mesmo quando apelamos para a lógica mais cartesiana, não tem jeito. O caminho de lutar contra parece inviável. Ainda que qualquer trauma possa ser relevante para tamanho anseio, ainda que qualquer situação teime em dizer que isso talvez não fosse pra você, o desejo segue como sonho. Perdurando como algo concreto mesmo que você insista em afastá-lo. Sendo perseguido pela vontade, pela imaginação e pelo subconsciente, mesmo que você nem saiba como. Assim são feitos os sonhos.
Nessa temporada de aspirações efêmeras e futuro incerto, talvez fosse irresponsável desejar esse nosso mundo frio e cruel para alguém, mas é possível que essa seja a essência de alguns. Já que meus objetivos materiais nunca foram tão latentes e minhas emoções foram sempre tão confusas, talvez seja mais honesto admitir que parte da minha natureza e da minha cura venham de alguém a quem eu possa dedicar minha vida e todo meu amor, da maneira mais irracional e incondicional possível.
Seguirei respeitando quem não se sente apto a essa loucura, seguirei renegando a todos aqueles que fogem a essa responsabilidade de modo vil e covarde, mas também seguirei sem me culpar por achar que, em uma nova vida, pode estar meu maior começo. Seguirei sonhando, e espero que você chegue um dia e tenha orgulho em falar “meu pai”.