Às vezes, eu penso em como seria tirar férias de mim mesmo. Um dia só que fosse. Deixar pra trás tudo que faz meu eu. Emprego, pensamentos, boletos, gostos, prazeres, responsabilidades, tudo.
E nem é pra ter uma vida melhor ou pior. Às vezes, a vontade é apenas de mudar. Como se, apenas por hoje, eu pudesse trocar de personagem.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um viajante que já rodou o mundo, conheceu pessoas de várias culturas e entendeu que o que faz a unidade da espécie humana é a beleza de individualidade de cada um.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um garçom de botequim na zona norte do Rio de Janeiro que sabe que seu estabelecimento não é só um bar, mas um ponto de encontro de pessoas que precisam relaxar e encontrar os seus, depois de mais um dia na invencível batalha diária do capitalismo.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou uma mulher que cansou de se submeter às diferenças de tratamento na empresa onde trabalha, pediu demissão, mandou todo mundo à merda e decidiu que amanhã vai resolver o que fazer da vida, porque hoje só quer ser feliz.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um jogador de futebol que precisa esconder da família, dos colegas de time, da imprensa e, principalmente, da torcida, que é gay, para poder praticar o esporte que tanto ama e que ajuda a sustentar a família.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um redator publicitário, de 34 anos, flamenguista, fã de surf e futebol americano, que veio do Rio pra São Paulo há 7 anos, trabalha numa agência grande e é feliz.
Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou quem eu quiser ser.
E você? Se você pudesse tirar férias de si mesmo, quem você gostaria de ser hoje?