Divã-neando

Férias de mim mesmo

Escrito por Breno Amaro

Quem nunca desejou tirar férias de si mesmo? Acordar num lugar diferente, com outra cara, outro corpo, outra mente?

Às vezes, eu penso em como seria tirar férias de mim mesmo. Um dia só que fosse. Deixar pra trás tudo que faz meu eu. Emprego, pensamentos, boletos, gostos, prazeres, responsabilidades, tudo.

E nem é pra ter uma vida melhor ou pior. Às vezes, a vontade é apenas de mudar. Como se, apenas por hoje, eu pudesse trocar de personagem.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um viajante que já rodou o mundo, conheceu pessoas de várias culturas e entendeu que o que faz a unidade da espécie humana é a beleza de individualidade de cada um.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um garçom de botequim na zona norte do Rio de Janeiro que sabe que seu estabelecimento não é só um bar, mas um ponto de encontro de pessoas que precisam relaxar e encontrar os seus, depois de mais um dia na invencível batalha diária do capitalismo.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou uma mulher que cansou de se submeter às diferenças de tratamento na empresa onde trabalha, pediu demissão, mandou todo mundo à merda e decidiu que amanhã vai resolver o que fazer da vida, porque hoje só quer ser feliz.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um jogador de futebol que precisa esconder da família, dos colegas de time, da imprensa e, principalmente, da torcida, que é gay, para poder praticar o esporte que tanto ama e que ajuda a sustentar a família.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou um redator publicitário, de 34 anos, flamenguista, fã de surf e futebol americano, que veio do Rio pra São Paulo há 7 anos, trabalha numa agência grande e é feliz.

Hoje eu não sou eu. Hoje eu sou quem eu quiser ser.

E você? Se você pudesse tirar férias de si mesmo, quem você gostaria de ser hoje?

Sobre o autor

Breno Amaro

Oi, eu sou o Breno. Carioca, redator, flamenguista, fã de surf, do Philadelphia Eagles e de Cavaleiros do Zodíaco. Faixa preta em Mortal Kombat e bi-campeão do World Series of Pavê 2015-16, comecei a escrever porque nunca aprendi a desenhar. Eu me fantasio de Ryu, de Ivan Drago e de Tigre no carnaval. Uma frase? “Trabalhe com o que ama e você nunca vai precisar trabalhar na vida, porque vai morrer de fome”. Escrevo sobre tudo o que passa na minha cabeça, sobre tudo que acontece na minha vida e, sobretudo, sobre nada. Meu cachorro se chama Bolinho.