Já passa da meia-noite e eu estou sozinha em meu quarto. No resto da casa, as pessoas dormem. Ah, um momento: não estou completamente sozinha. Meu cachorro me faz companhia, deitado no tapete.
Mas, o que é, de verdade, estar só? A solidão pode ser definida meramente por uma perspectiva espacial? Eu estou sozinha neste quarto, mas não estou sozinha na casa. Como é que se explica, então, o sentimento de solidão que volta e meia se abate sobre mim?
Eu já experimentei diversas formas de solidão, e já tentei explicá-la literariamente antes também. Nunca é fácil e, francamente, nem sei se é possível. Mas eu continuo ressignificando a solidão a partir das minhas experiências.
Eu já morei sozinha. Em várias casas diferentes. E em outra cidade também. Eu já viajei sozinha – de ônibus, de carro e de avião. Eu já saí sozinha para tomar uma cerveja. E almoçar ou jantar sozinha fazem parte da minha rotina com tal frequência que já me é natural. Eu ocasionalmente vou ao cinema sozinha.
Nada disso parece tão estranho, não é? Mas eu falo sozinha também. E em cada uma das situações acima descritas o sentimento de solidão é diferente.
Aqui, preciso fazer um adendo antes de prosseguir. A solidão nem sempre é ruim. Às vezes, ela até é necessária. Mas, alguns dos casos que eu citei foram opcionais. Outros foram apenas uma questão de “é o que tem pra hoje” e “tudo bem”.
Mas, o pior tipo de solidão, aquela solidão genuína, dolorida, sufocante, não é nenhuma destas. Nada se compara à angústia de sentir-se só mesmo em meio às pessoas que amamos.
É quando você se sente deslocado, desconfortável e invisível em situações e ambientes onde, supostamente, deveria estar feliz e integrado. Mas a sensação de não pertencer, de não se encaixar, de estar sobrando, é massacrante.
Quantas vezes vocês se viram nessa situação? Eu, mais vezes do que gostaria de admitir.
E o maior paradoxo nisso tudo é que, ao nos sentirmos sozinhos nesse tipo de contexto, a única coisa que queremos fazer é fugir… para ficarmos sozinhos.
Talvez não faça sentido para você. Talvez você não sofra de solidão crônica como eu. Talvez, você se sinta sozinho em meio à multidão de desconhecidos e não goste de ir solo ao cinema, por exemplo. Tudo bem. Muita gente não curte esse tipo de programação em número ímpar.
Já eu encaro com naturalidade ser uma completa anônima em qualquer lugar, ser apenas uma reles desconhecida.
Exceto,
naquela situação em que, rodeada de rostos e vozes familiares, me sinto completamente sozinha neste mundo.