Os descafeinados que me perdoem, mas o café é minha bebida fundamental. Depois da água, é claro, sem a qual não seria possível prepará-lo. Café é amor em forma líquida e eu posso provar – além de prová-lo.
Se é pra falar de amor, eu falarei Inara do café na minha família. Afirmo sem exagero que, desde que nasci, o café foi presente na minha vida. Faz parte das minhas primeiras lembranças na casa da minha avó. E, até hoje, quando volto lá, pego a caneca de louça que era do meu avô (branca, com um padrão de florezinhas em preto perto da base) e me sirvo na garrafa térmica, que está sempre abastecida. Café preto, simples, Pilão, com açúcar. Porque o café é democrático: da casa mais humilde à mansão mais luxuosa, a oferta de um café é uma declaração de boas-vindas. Praticamente uma regra da boa educação do brasileiro. De mercadinho de bairro a escritório de alto padrão, é básico ter sempre disponível uma água e um cafezinho.
Também é um dos poucos ingredientes beneficiados com a gourmetização, que abriu para os cafeinólatras um novo universo de sabores intensos, doces, ácidos, com notas aromáticas de chocolate, de frutas, de especiarias. E, do café passado no coador à prensa francesa, os métodos são inúmeros. Café também é cultura, preparado de formas particulares em tradições diferentes, com os mesmos objetivos: servir uma bebida que une as pessoas, reger uma conversa, aquecer corpo e alma, e agradar o paladar.
Seu simples preparo é um ritual que desperta os sentidos: o cheiro potente que vem da embalagem ao ser aberta; a textura das beiradinhas do filtro de papel ao serem dobradas com as pontas dos dedos; o deslumbre da espuma que se forma na água em contato com o pó; o som do líquido escorrendo no coador, ou aquele estalo da cápsula ao ser rompida pela máquina de espresso… e depois o aroma de café preparado na hora, que envolve o ambiente; a cor escura e brilhante na xícara; o calor do recipiente entre as mãos. E o principal: o sabor, que pode ser forte e amargo; suave e doce; mas que é sempre um alento e um toque de despertar.
Além de afetivo, democrático e ritualístico, o café também é elemento de socialização. Um convite para um café é uma oportunidade: para se reunir com os amigos, para falar de questões sérias, para fazer um negócio. Um café é sempre mais que um café. É uma pausa na tarde estafante no trabalho; é um momento de relaxamento. Um café pode ser uma confissão, uma discussão de relacionamento, uma chance para uma nova amizade. Mesmo que às vezes não necessariamente todos os participantes tomem café. Porque “tomar um café” é mais do que se servir de uma bebida, é compartilhar um momento.
Não estou aqui querendo convencer a ninguém de que o café é a bebida perfeita (apesar de ser). Não quero diminuir a qualidade do paladar daqueles que se desagradam desse néctar do aconchego e da disposição. Nem quero seduzir os leitores com as tantas vantagens e delícias que o café oferece. Mas, uma coisa é fato: quem não gosta de café, bom sujeito não é.
Uau! Esse texto está tão incrível que até eu, que odeio café sem medo de ser retaliada por isso, fiquei com vontade de tomar uma xícara!
Elogio melhor do que esse, só acompanhado de uma xícara de café recém passado <3