Eu sou uma grande apreciadora da praia. O barulho do mar, a brisa refrescante, as ondas quebrando, o céu azul. A sensação de que o tempo passa mais devagar. Parar e apreciar a paisagem é altamente terapêutico para mim.
Mas, um dos elementos que tornam a praia um lugar tão especial é, também, um de seus grandes inconvenientes: a areia.
A areia, que, por vezes, fica impregnada em nossas roupas e cabelos, que gruda no corpo, que o vento às vezes joga nos nossos olhos, que se instala em lugares dificílimos de retirar. Tão linda e tão trapaceira.
Mesmo assim, eu gosto da areia. Gosto de tirar os chinelos e caminhar descalça, sentindo a areia fofa sob os meus pés. Fico pensando no quanto essa areia já voou para lá e para cá, já tomou chuvas e tempestades, quantas pessoas passaram por ali – mas, no fim do dia, ela continua lá, adornando a orla de dourado.
Quando eu era criança, tínhamos o hábito de construir castelinhos de areia. Nada muito impressionante, é verdade. Mas, meu irmão e eu passávamos horas moldando as torres, decorando os detalhes com aquela mistura de areia e um pouco de água. O kit com baldinho e pazinhas fazia nossa alegria durante horas (para alegria e sossego, também, de nossos pais).
É claro que a concepção sempre era melhor que a execução, mas isso nunca nos impediu de construir nossos castelinhos. Mesmo sabendo que, logo, eles iriam desmoronar, e teríamos de começar tudo de novo no dia seguinte.
Mas, essas experiências me ensinaram que o importante não era a durabilidade do castelo, e sim o processo de construi-los. Fazia parte do ritual de estar na praia.
Hoje, adulta, eu não faço mais castelos de areia – ao menos, não no sentido literal. Mas, frequentemente, tenho a mesma sensação de estar constantemente tentando construir minha vida, edificar um castelo, trabalhar duro nos detalhes – e acabar vendo tudo desmoronar quase que instantaneamente.
É como se todas as certezas que eu busco estivessem – tal qual a areia – escorrendo pelos meus dedos, e fosse impossível segurá-las. E quanto mais eu me esforço para construir algo sólido, mais fortes parecem ser os ventos ou as ondas que irão derrubar tudo.
Mas, sigo levando comigo o aprendizado obtido durante minha infância: muitas vezes, você só tem que continuar fazendo – e pode ser que, neste castelo de areia chamado vida, realmente, o processo seja mais importante que o resultado.
Moro a mais ou menos 500 metros da praia, mas só frequento quando tenho visita.
Ainda assim, aquece o coração saber que ela tá ali.
Quanto a vida, vejo mais como água do que como areia. Ainda mais instável, caótica e maravilhosamente fluida
Desafio: escreva sobre isso! Que tal?