Dia desses, entrou um grilo aqui no apartamento. Eu achei estranho, pois nem sabia que grilos voavam tão alto (voam?). Ele deve ter entrado em algum momento em que a janela da lavanderia estava aberta, ou então não tem outra explicação para como ele entrou.
Bom, mas a logística de invasão domiciliar do grilo nem é o foco deste texto.
O causo é que, obviamente, eu só percebi que um novo ser vivo habitava meu apartamento durante à noite, que é quando o bicho resolve cantar. E, para quem nunca passou pela experiência, eu garanto: um grilo cantando num apartamento minúsculo pode ser algo bastante desagradável. O barulho ecoa por todo lado e é impossível “esquecer” que ele está ali.
Na primeira noite, eu fiquei muito incomodada, procurei exaustivamente o bicho, mas sem sucesso. Só me restou aceitar meu novo roomie e tentar isolar o máximo possível o meu quarto para abafar um pouco o barulho e conseguir dormir.
Numa rápida pesquisa no Google, sobre como me livrar do bicho – e a qual não retornou nenhum resultado útil para mim -, descobri que quem canta é o grilo macho, utilizando o som para atrair as fêmeas para acasalar. O equivalente ao humano do sexo masculino com seus carros enormes e aparelhos de som potentes tocando música ruim, sabe?
Pois bem. Por um momento, tive um pequeno pânico de que pudesse ter uma grila do sexo feminino ali e eles resolvessem se casar e constituir família justamente dentro do meu apartamento. Mas, segue o baile.
Na segunda noite, já percebi que o canto do grilo estava diferente. Não era mais um canto garboso e seguro de si. Parecia mais um canto de desespero. Uma súplica para alguém aparecer e resgatá-lo – ou alimentá-lo, imagino eu. Novamente busquei pelo bicho, sem sucesso.
Na terceira noite, o canto do grilo já era absolutamente fraco, como se ele estivesse em seus últimos suspiros. Acredito que, por ter passado fome por três noites e três dias seguidos – e não ter dado nenhum “match” -, o bicho já estava entregando os pontos, sem mais razão alguma de viver.
Coincidentemente, fui à lavanderia e o vi escondendo-se atrás do cesto de roupas sujas. Ele já estava, claramente, desorientado. Aproveitei-me de sua fraqueza e – perdão se você é um defensor ferrenho dos animais – pus fim à sua miséria. Com uma chinelada de misericórdia, mandei o inseto para o céu dos grilos.
Dormi feliz aquela noite. Mas nenhum assassinato covarde e cruel passa impune no mundo dos grilos, eu aprendi.
No dia seguinte, um novo representante da família Gryllidae deu o ar da graça por aqui. Se eu morasse na China, entenderia isso como um sinal de sorte. Mas como sou brasileira e não supersticiosa, só pude pensar: “puta merda, essa porra desse bicho gritando aqui no meu apartamento de novo?”. Mas, este segundo invasor foi mais esperto, porque até agora eu não dei conta de seu paradeiro. E daqui em diante, tudo pode acontecer.
Estou há 6 vivendo essa experiência. Já estudei quase tudo sobre grilo. Também moro sozinho num apartamento e nesse tempo de confinamento pela pandemia do corona da China confesso que tem sido divertido. Espero que ele não resolva entrar no quarto porque já estou que não aguento de Live de cantor sertanejo na vizinhança. Ao menos fiquei sabendo que o tempo de vida de um grilo é no máximo 6 meses. Pra quem não sabe quando acaba essa quarenta essa informação não deixa de ser um alento. Breve farei uma história completa da minha convivência com esse inquilino insólito e conto pra vocês.
Até breve.
*Estou há 6 dias..
Já aconteceu isso comigo, May… Eu tb não achava o grilo, que se enfiou dentro do meu quarto! Aí eu ligava a luz, o grilo ficava quietinho… Apagava a luz para voltar a dormir, ele voltava a cantar. Então, eu tomei uma atitude drástica. Abri a porta e chamei: “Adrenalinaaaaa!”. Adrenalina era a minha gata. Apaguei a luz pro grilo cantar… Ele começou a cantar e, de repente, aquele som foi interrompido. Virei pro lado e dormi tranquila. E a Adrenalina ficou feliz com a oportunidade de caçar.
HAHAHAHAHAHA amei a história e o nome da gata!