Pensamentos crônicos

Síndrome de Esquilo

Escrito por Letícia Nascimento

Desapegar não precisa ser uma coisa ruim. Além de liberar espaço evita que nos tornemos acumuladores.

Eu sempre tive síndrome de esquilo. Desde pequena, guardava as coisas mais “banais” possíveis: amarrador favorito arrebentado, caneta colorida sem tinta, pedrinha encontrada em um passeio legal, entre outras bugigangas sem nenhuma utilidade para qualquer outra pessoa, mas com muita importância para mim. 

Isso me deu um acúmulo de caixas de recordação que não cabiam direito no guarda-roupas da infância e, com a chegada da faculdade, dos novos amigos e experiências, foi ficando difícil armazenar tudo. Mas o meu coração de esquilo continuava batendo. Até que chegou o momento da minha primeira mudança, para um apartamento, com um quarto pequeno e um armário que, com certeza, não comportaria todas as minhas caixas. 

Precisei desapegar. Eu, que sempre odiei essa palavra: desapego. Achava forçada como outras que coloquei em um mesmo gênero mental: gentileza, gratidão, resiliência… Achava que era uma palavra intrusa, que me pedia para tirar de mim coisas que eu gostava muito. E eu sofri muito quando tive que fazer a primeira grande limpeza da minha vida.

Confesso que sinto falta até hoje de coisas que me desfiz por falta de espaço. Mas com o tempo tive que guardar o que tinha mais importância. Tudo o que era coisa e não tinha serventia, tinha que sair. Ficaram as (muitas) cartas, os postais, os bibelôs internacionais das viagens dos amigos, os recadinhos dos afilhados, um ou outro souvenir das minhas viagens, presentes, um ou outro ingresso de show, alguns flyers das minhas discotecagens… é, ainda ficou muita coisa.

Porém, depois que consegui me desvencilhar de boa parte das minhas memórias, ficou mais fácil desapegar. Eu consegui doar um pijama que usei da Copa de 94, quando eu tinha 5 anos, até a Copa de 2016 quando eu tinha 17 anos. Um pijama que, claramente, não me servia mais, que era calça e manga comprida e virou shorts e cropped, mas que eu, esquilinha, não conseguia abrir mão. 

Desde então, todos os anos faço uma limpa nas minhas coisas. Todas as roupas que não usei nos 365 dias anteriores vão pra doação, assim como calçados, bolsas, bijuterias, esmaltes, batons, etc. É incrível a sacolada de coisas que compramos, acumulamos e não usamos. 

E como é boa essa sensação de liberdade, de mais espaço, de desapego das coisas que não fizeram falta e que vão ser maravilhosas para outras pessoas. Recomendo.

E assim, desapego após desapego, guardando apenas o essencial, aquilo que toca alma e dá saudade das pessoas amadas, nada além do que comove… é esse tipo de esquilo que sou agora. 

Sobre o autor

Letícia Nascimento

Jornalista por formação, redatora por rotina, roteirista de alma, deseja um dia ter a audácia de se intitular escritora. Ama bebês, cachorros e fofuras em geral. Cinéfila que assiste de tudo, viciada em séries e leitora apaixonada. Possui todos os distúrbios possíveis do sono, luta contra a ansiedade crônica e a fibromialgia com humor e acidez. Parece jovem mas joga gamão nas horas vagas.

1 comentário

  • Como já fiz mais de 30 mudanças, eu aprendi a não me apegar a coisas materiais. Só tem um objeto do qual eu não me desfaço: minha caneca da Magali! Essa fez as mais de 30 mudanças comigo. O cabo já quebrou e eu colei…
    Ainda estou tentando ensinar meu marido a desapegar, mas ele sempre me enrola dizendo que “só não faço uma faxina porque não tenho tempo” – mas no fundo eu sei que o problema é muito mais embaixo!

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