Eu tenho, na minha sacada, uma pimenteira. Diariamente, eu rego a planta e ela fica estrategicamente posicionada num local em que pega bastante sol. Me disseram que ela gosta assim, e eu sigo o protocolo.
Agora, na época de calor, ela carrega bastante, e está toda cheia de pequenas pimentinhas vermelhas. Todos os dias, eu olho para ela, retiro algumas pimentas, dou água, giro o vaso para lá e para cá.
E estamos no outono. Então, todos os dias, ela solta folhas. Muitas folhas. Todos os dias, eu tenho que varrer a sacada, pois o vento traz as folhas para dentro de casa. E, todos os dias, eu observo este ciclo de morte e renascimento da pimenteira.
Enquanto folhas velhas e amareladas caem, novas folhas renascem; enquanto as pimentinhas velhas secam, novas pimentinhas brotam. A vida está acontecendo ali, bem diante dos meus olhos.
E, se nós pensamos que as plantas não se movem e não saem do lugar, essa dança de folhas, frutos e brotos nos mostra que elas são muito mais ativas do que pensamos.
E, tal qual as plantas, penso que nós também devemos cumprir alguns ciclos de morte e renascimento, diariamente. Temos de saber nos deixar podar, cortando fora galhos velhos e ressecados, abrindo mão daquilo que não nos sustenta mais – velhas verdades, certezas falidas, preconceitos e rancores ultrapassados.
Assim como a pimenteira, temos de derrubar, diariamente, as folhas que já secaram – nossos velhos desafetos, antigos traumas, pensamentos que não nos servem mais, moldes em que não mais cabemos. Let that shit go.
É no ciclo de secar, florir e brotar de novo que as plantas renascem e crescem, ao sabor das estações do ano. A natureza é sábia e nos ensina valiosas lições. Aprendamos com ela. Sejamos como a pimenteira, a mangueira, o limoeiro. Permitamo-nos secar, florir e brotar. Morrer e renascer. Todos os dias.